O desempenho médio das escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2014 piorou em Matemática em relação a 2013. A média obtida ano passado foi 511,33 pontos inferior a que havia sido alcançada no exame anterior. A queda, no entanto, foi registrada apenas nesta área de conhecimento.
Ano passado, a pontuação em Linguagem e seus Códigos subiu 20 pontos, passando de 508 para 528. Em Ciências da Natureza, o salto foi de 15 pontos, passando para 507. Na área de Ciências Humanas, a elevação foi de 28 pontos. “Os resultados gerais mostram que há o que se comemorar”, afirmou o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Francisco Soares. “Mas há ainda um caminho a percorrer”, completou.
O presidente do instituto disse ser necessária a realização de estudos mais aprofundados para identificar as razões que levaram à queda de desempenho na área de Matemática.
Para fazer a análise, o Inep levou em consideração as notas alcançadas por 1.295.954 alunos. Todos fizeram as quatro provas objetivas e uma redação, com notas superiores a zero. Os dados divulgados nesta quarta-feira, 5, pelo governo, no entanto, não levam em consideração todas as escolas com alunos que preencheram esses quesitos.
Para fazer parte do ranking, as instituições precisavam atender duas condições: pelo menos 10 alunos deveriam ter participado do exame e esse número deveria ser igual ou superior a 50% dos estudantes matriculados na escola. Com isso, o número de escolas com resultados divulgados foi de 15.640.
“As informações fornecem ao mesmo tempo dados para gestores, professores e famílias sobre desempenhos de alunos matriculados nas escolas”, disse o presidente do Inep.
Distorções
O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, no entanto, alertou para o risco de se fazer uma comparação pura e simples das notas alcançadas pelas escolas. Ele observa que as instituições apresentam grandes diferenças entre si. “Para corrigir as distorções provocadas pela heterogeneidade, é preciso analisar uma série de variáveis, como a seleção do aluno, dados socioeconômico e o porte das escolas”, observou.
“Uma nota final 500, por exemplo, não exprime necessariamente se o ensino foi bom. A nota pode ser reflexo da condição social do aluno e, nesses casos, a capacidade de intervir da escola pode ser muito baixa”, completou. Para ele, tem mais valor uma instituição que conseguiu fazer o estudante saltar de uma nota 200 para 400 do que outra que fez o desempenho melhorar de 500 para 550.
Assim como foi feito no ano passado, o Inep agregou dados de acordo com algumas condições. Foram feitas análises separadas, por exemplo, do desempenho dos estudantes de acordo com o Indicador de Nível Socioeconômico (ISE), com o porte da escola, com a formação do corpo docente. Na análise divulgada nesta quarta, foi avaliada também uma nova variável: o índice de permanência nas escolas.
“Algumas instituições expurgam alunos que não atendem a determinadas características. Ou atraem, na reta final do curso, outros estudantes que apresentaram desempenhos considerados muito bons”, disse o ministro. Tal estratégia acaba levando a resultados que estão pouco relacionados à qualidade do ensino e à capacidade de a escola ajudar a preparar melhor o estudante. “É uma espécie de eugenia”, comparou.
Socioeconômico
O maior impacto é alcançado quando se compara o desempenho das escolas de acordo com o nível socioeconômico dos alunos. Aquelas com alunos de condição econômica muito alta alcançaram média de 611 pontos, 182 pontos a mais do que aqueles com ISE considerado muito baixo: 429. “É uma invasão da desigualdade social na escola”, resumiu o ministro.
A segunda maior diferença foi identificada na comparação de escolas, de acordo com o índice de permanência. Escolas com índice de permanência muito baixo (em que apenas 20% dos estudantes iniciavam e terminavam o ensino médio na instituição) alcançaram uma nota média de 545 pontos. Nas escolas com índice de permanência alto, (em que 80% dos alunos começaram e concluíram o ensino na instituição) a nota média foi de 508. Uma diferença de 37 pontos.
A qualidade do corpo docente, por sua vez, provocou uma diferença de 34 pontos na média das escolas. Aquelas que tinham pelo menos 50% dos professores preparados de forma adequada apresentaram médias superiores ao grupo de escolas em que profissionais não reuniam tais quesitos. A diferença de desempenho de acordo com o porte da escola também foi significativo: as menores tiveram uma média 27 pontos superior das instituições com maior porte.
“Mas é preciso lembrar que escolas grandes trazem experiência, elas ajudam a criança a conviver com a diferença. Nas instituições menores, estudantes saem menos preparados para a diversidade que vão encontrar na vida”, completou Janine Ribeiro.
Para o ministro, o ideal é fazer análises que levem em conta todas essas variantes. “Com isso podemos ver quais são as escolas que mais agregam”.
Seguindo essa lógica, Inep e MEC fizeram uma análise de escolas de grande porte (com mais 90 alunos), indicador de permanência alto e ISE baixo e muito baixo. Neste ranking, a primeira colocada foi a Escola Família de Cacule, na Bahia. Em segundo lugar, vem outra escola baiana: a Escola Família da Região de Alagoinhas.