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Dilma dá carona em avião a ex-morador de rua

Em meio a críticas de movimentos sociais e militantes de esquerda pela escolha de nomes identificados com o conservadorismo para o ministério do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff mostrou nesta quarta-feira que, ao contrário do primeiro mandato, está disposta a interagir e dialogar com a sociedade. Depois de participar da tradicional celebração de natal promovida pelo Movimento Nacional dos Catadores, em São Paulo, Dilma deu uma carona no avião presidencial para o ex-morador de rua Anderson Miranda, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, que participaria de uma reunião em Brasília.

Horas antes, Miranda, que foi o mestre de cerimônia da celebração natalina, colocou Dilma e o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, em uma saia justa ao “desafiar” a presidente a manter o ministro no cargo. Responsável pela relação direta com movimentos sociais desde o início do governo Dilma, Carvalho pode ser substituído pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, que ocupou papel central na campanha pela reeleição de Dilma e tem uma relação antiga de amizade com a presidente.

O constrangimento começou quando Miranda pediu que o ministro se levantasse durante uma encenação natalina preparada especialmente para Dilma. Visivelmente contrariado, Carvalho resistiu mas acabou obedecendo. Em pé, ao lado de Dilma e outros quatro ministros sentados, o chefe da Secretaria Geral ouviu uma série de elogios de Miranda, que acabou “desafiando” a presidente a mantê-lo no cargo. O mestre de cerimônias percebeu o mal estar e tentou consertar a situação. “Se o Gilberto não puder continuar, que a senhora escolha um ministro que tenha o mesmo poder”, disse Miranda, ao que Carvalho assentiu com polegar esquerdo levantado em sinal de positivo.

A saia justa continuou durante o discurso do coordenador nacional do Movimento Nacional dos Catadores, Roberto Laureano, que também manifestou preocupação com a substituição de Carvalho mas deu um sinal de otimismo. “Pedimos uma equipe (de governo) que possa acompanhar isso (o processo de inclusão iniciado no governo Lula). Mas a gente sabe que escolha que a senhora fizer para o próximo governo não vai nos excluir , pode até ser uma escolha melhor”, disse ele.

Apesar do agrado à Dilma, Laureano criticou o programa Cataforte III. Articulado pela Secretaria Geral em parceria com outros ministérios, o programa disponibiliza desde agosto de 2013 R$ 200 milhões para a estruturação de cooperativas de catadores e centrais de reciclagem e seria a cereja do bolo do discurso de Dilma mas, segundo Laureano, esbarra na burocracia. “Estamos falando isso há dois anos. Tem que desburocratizar o Cataforte III. São R$ 200 milhões à disposição mas os catadores não conseguem ter acesso a isso de jeito nenhum”, reclamou o coordenador dos catadores. Em seu discurso, Dilma teve que se explicar dizendo que “todo programa pode ser aprimorado” mas reforçando os aspectos negativos do Cataforte III.

Segundo fontes da presidência, o mal estar se dissipou depois do evento. Miranda, o mestre de cerimônia, pegou uma carona no avião presidencial até Brasília, onde participaria de uma reunião. Numa tentativa de se aproximar com os movimentos sociais críticos das escolhas de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e Katia Abreu para a Agricultura, a presidente usou as cooperativas de catadores e reciclagem como metáfora para a política econômica que pretende implantar no segundo mandato. “É a proposta mãe, crescer gerando renda e riqueza mas com sustentabilidade. Esta é a concepção mãe do novo governo. É para isso que fui eleita”, disse ela.

Ao participar da celebração de Natal dos catadores, Dilma deu sequência a uma tradição inaugurada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro ano de mandato, em 2003, quando foi ao Glicério, na região central, acompanhado de vários ministros.
Antes de assistir à celebração, Dilma e cinco ministros (Direitos Humanos, Meio Ambiente, Mulheres e Combate à Fome, além de Carvalho) fizeram uma reunião de trabalho com representantes dos movimentos e visitaram uma exposição de produtos feitos reciclados. Dilma chegou a vestir um xale feito com restos de chapas de Raio X feita pela estilista Consuelo Matroni, que também mostrou à presidente um vestido cuja composição leva restos de cartões do Bolsa Família.

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