Depois de investir R$ 43 milhões em obras de modernização e ampliação de sua fábrica de soros, o Instituto Butantan poderá aumentar a produção em até 75%. De acordo com o diretor do instituto, Jorge Kalil, as obras foram necessárias para adequar a produção de soros às novas exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Sem a nova fábrica, seria impossível cumprir as novas exigências da Anvisa. Aproveitamos para fazer uma ampliação que permitirá aumentar a capacidade produtiva de 450 mil para 750 mil ampolas por ano”, disse Kalil.
A demanda total de soros no Brasil, segundo Kalil, é de cerca de 800 mil ampolas por ano. Embora a capacidade produtiva do instituto vá aumentar, no entanto, isso não significa que o instituto de fato produzirá toda essa quantidade para consumo interno. “É possível que, por razões comerciais ou humanitárias, comecemos a produzir para outros países”, afirmou.
As obras de modernização já foram concluídas e a nova fábrica de soros foi apresentada hoje à imprensa e a funcionários do instituto. O investimento também incluiu a construção de um novo edifício que abrigará o Laboratório de Artrópodes, que abrigará aranhas e escorpiões para a produção de soros.
O Instituto Butantan produz 13 tipos diferentes de soros para tratamentos de vítimas de animais peçonhentos como serpentes, aranhas, escorpiões e lagartas – além de doenças como raiva, botulismo, difteria e tétano.
Segundo Kalil, o Instituto Butantan vende vacinas e soros para o governo brasileiro sem margem de lucro. Os recursos investidos, portanto, foram todos da Fundação Butantan. Segundo ele, nos últimos quatro anos, o instituto investiu R$ 300 milhões, sendo R$ 250 milhões em obras de reformas do setor industrial.
“Aplicamos bem os recursos e por isso pudemos fazer a reforma e ampliação da fábrica. Seria catastrófico não poder fazer isso, porque se não adaptássemos as instalações às exigências da Anvisa, a produção poderia parar”, explicou.
A obra durou um ano e nova planta industrial deverá entrar em funcionamento em fevereiro de 2016, segundo Kalil. De acordo com ele, a unidade industrial foi adequada a padrões rigorosos de controle. “O processo de fracionamento de plasma para produção dos soros foi totalmente automatizado”, disse.
Cerca de 28 novos equipamentos foram adquiridos e dois tanques de processamento de plasma, de 1200 litros, foram reformados. O sistema de tratamento de ar foi substituído para permitir a classificação de limpeza e o monitoramento da temperatura, umidade e pressão – que são distintos nas diversas áreas da planta industrial.
Para a produção de soros, os venenos são extraídos dos animais peçonhentos e, a partir deles, são preparados os antígenos – substâncias capazes de gerar uma resposta do sistema imunológico ao entrar em um organismo. Os antígenos são então introduzidos em cavalos.
Depois, amostras de sangue são extraídos dos cavalos e uma parte delas – o plasma – é levada à fábrica para passar por uma série de processos físicos e químicos de purificação dos anticorpos desenvolvidos. O soro então passa pela fase de formulação e envase.
Além da área de produção da fábrica, também foram modernizadas as áreas de estoque da de soros, que podem agora armazenar o dobro de insumos. O novo Laboratório de Artrópodes tem quase o dobro das instalações atuais e deverá aumentar em até 30% a extração de venenos. Hoje, o prédio abriga cerca de 15 mil aranhas e 5 mil escorpiões – essa capacidade deverá dobrar.