Juros sobem com tensão sobre Orçamento, ruído político e pressão dos Treasuries

Os juros terminaram a segunda-feira em alta, refletindo tensões políticas e fiscais no Brasil e também mais um dia de estresse no segmento de Treasuries. As taxa longas tiveram alta de 13 pontos-base e as de curto prazo fecharam quase estáveis, configurando novo aumento de inclinação da curva.

O desenho espelha as preocupações com a maquiagem da proposta de Orçamento 2021 para acomodar bilhões em emendas parlamentares e o aumento do ruído político envolvendo o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que acabou deixando o cargo. Lá fora, o retorno da T-Note de 10 anos acima 1,70%, mesmo num dia esvaziado de indicadores e sem leilões de venda de títulos, ajudou a inclinar a curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passou de 4,736% para 4,765% e a do DI para janeiro de 2025 fechou a etapa regular em 8,26%, de 8,116% no ajuste de sexta-feira. A taxa do DI para janeiro de 2027 terminou em 8,83%, de 8,694%.

Com mais uma edição do Boletim Focus apontando nova alta na mediana de Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2021 (4,71% para 4,81%), os juros já abriram pressionados também pelo noticiário do fim de semana e, ainda pela manhã, chegaram a avançar 20 pontos-base na ponta longa. Internamente, o principal fator a empurrar as taxas foi o Orçamento 2021.

O mercado reagiu relativamente bem à aprovação pelo Congresso na quinta-feira, relevando, num primeiro momento, os problemas fiscais que o texto apresentava.

O economista Silvio Campos Neto, da Tendências, afirma que durante o fim de semana os agentes digeriram melhor o Orçamento, com uma leitura bastante disseminada de que há diversos problemas, inclusive legais. "Mais do que isso, ficou a mensagem de despreocupação com a questão fiscal, o que certamente amplia o desconforto da equipe econômica diante desta eventual vitória da ala desenvolvimentista", disse.

Com dezenas de bilhões em emendas parlamentares colocadas no texto, a peça foi considerada "inexequível" pelo próprio Ministério da Economia, que calcula que a máquina do governo teria de funcionar com apenas R$ 49,5 bilhões até o final do ano – praticamente a metade do que os especialistas consideram o patamar mínimo para não ter uma paralisação.

"O Orçamento como está não dá para ficar, dado o risco de questionamento jurídico. A Economia demorou a reagir e o presidente Bolsonaro se cala, parecendo dar anuência", disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa.

Dada a repercussão muito negativa, o relator do Orçamento, Márcio Bittar (MDB-AC), estaria sendo cobrado a ajustar ainda nesta segunda-feira o excesso de emendas, segundo apurou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Com essa informação, as taxas, no começo da tarde, chegaram a desacelerar o avanço para menos de 10 pontos. Ajudou ainda no alívio a notícia da saída do ministro Ernesto Araújo, que já estava muito desgastado pelo fracasso na negociação com o exterior das vacinas contra a covid-19. A pá de cal, contudo, foram os ataques dele no domingo à senadora Kátia Abreu (PP-TO), do Centrão, insinuando que ela teria defendido interesses da China nas negociações da tecnologia 5G.

Porém, mais tarde devolveram parte do alívio, com o rendimento da T-Note novamente rompendo 1,70%. "Não tivemos indicador que pudesse justificar hoje essa puxada dos Treasuries, embora, olhando mais para a trajetória, é claramente de alta", disse o economista da SulAmérica que, no entanto, esperava que as taxas ficassem estabilizadas em nível alto até pelo menos a divulgação do relatório de emprego nos Estados Unidos.

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