A proporção de atos de violência sexual na Universidade de São Paulo (USP) foi maior do que na cidade de São Paulo nos últimos três anos. Enquanto os ataques sexuais representaram 3,4% do universo dos crimes violentos registrados pela universidade, este número é de 1,54% na capital.
É o que mostra comparação entre estatísticas da Superintendência de Segurança da USP e da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP). Entre os anos de 2012 e 2014, foram nove episódios de ataques sexuais na universidade. Destes, três se tratavam de tentativas de estupro. Os outros casos estão ligados a atos obscenos ou condutas atípicas (atentado ao pudor).
No mesmo período, o órgão apontou 255 ocorrências entre roubo, roubo de veículos e sequestros. Furtos e outros tipos de crime não são divulgados. Já em toda a capital, considerando somente o universo de crimes divulgados pela USP nestes três anos, foram 511.233 roubos (incluindo roubo de veículos), 8.048 estupros e 55 sequestros.
Em novembro, o reitor da USP, Marco Antonio Zago, disse que a violência acontece dentro da USP “como em qualquer outro local da sociedade”. A afirmação foi feita dias depois de duas alunas denunciarem, em audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), terem sido estupradas em festas organizadas por alunos da Faculdade de Medicina (FMUSP). Os casos são apurados pelo Ministério Público Estadual (MPE).
De todos os episódios relatados à Superintendência, apenas três tiveram boletim de ocorrência registrado, dois de estupro. A maioria envolveu alunas, mas houve também dois casos com prestadoras de serviço terceirizadas e uma servidora. Mesmo sendo um local de grande movimentação, a Praça do Relógio Solar já teve dois casos de violência com alunas, ambos em 2013. Na Avenida Lineu Prestes há três fatos relatados. Também foram registradas violências sexuais na Avenida Melo Moraes e até na Prefeitura da USP.
Neste ano, a USP recebeu duas notificações de crimes. Um deles foi em julho, uma tentativa de estupro na Avenida Lineu Prestes, às 6h35. O mais recente foi no dia 27 de novembro, na Prefeitura. Em nenhum dos casos há histórico da violência, já que as vítimas preferiram não registrar queixa na delegacia. A Pesquisa de Vitimização, publicada no ano passado, mostrou que, enquanto casos de ofensa sexual são denunciados apenas em 7,5% das vezes, 9 em cada 10 roubos de carro são registrados. Ou seja, o número de atos violentos contra as mulheres pode ser mais do que dez vezes maior do que os dados apontam.
Já em outubro de 2013, uma tentativa de estupro ocorreu no prédio de engenharia de produção da Poli. O boletim de ocorrência do 93º DP (Jaguaré) apontava que o crime ocorreu no banheiro feminino do primeiro andar. A aluna se dirigiu ao local e percebeu que um dos boxes estava trancado. Quando as demais alunas saíram do banheiro, a porta se abriu e a jovem foi puxada e arrastada em direção ao compartimento. O agressor chegou a cobrir a boca da vítima, que reagiu a cotoveladas. O homem conseguiu fugir. Embora o prédio tivesse câmeras de segurança, nenhuma delas funcionava no momento do crime, de acordo com o boletim de ocorrência. A guarda universitária chegou a procurar suspeitos, mas não encontrou. Até o momento não há informações sobre o criminoso.
Segurança
O jornal O Estado de S.Paulo apurou que foi criado um grupo de trabalho (GT), envolvendo servidores, representantes das prefeituras do campus da capital e do interior, além de representante dos alunos, que tem como objetivo discutir a segurança na universidade. Um relatório deverá ser finalizado até o final do ano e vai propor, entre outras constatações, a criação de um conselho permanente deliberativo de segurança da USP. Outra ação proposta é o aumento de funcionários da guarda universitária, principalmente de mulheres, que são minoria no setor. Outros detalhes como iluminação do campus também deverão ser mencionados. As propostas, ainda em elaboração, deverão ser encaminhadas em breve à reitoria.
A contratação de mais guardas tem sido reivindicada pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp). “Deveríamos ter, no mínimo, cinco vezes mais funcionários na guarda universitária do que hoje”. disse Magno de Carvalho, diretor do Sintusp. De acordo com Carvalho, o Plano de Demissão Voluntária (PDV), implantado na USP para enfrentar a crise financeira e reduzir os gastos dos cofres da universidade, fará com que haja ainda mais diminuição no efetivo, já que a guarda “está envelhecida”.
Estudantes
Em outubro, estudantes da USP realizaram um encontro de mulheres em que redigiram um documento, encaminhado à reitoria, com propostas de segurança para a universidade. Dentre as sugestões, está o aumento da frota de circulares em todos os campi, mais iluminação, criação de ouvidoria para sistematizar casos de violência contra a mulher e abertura de inquéritos administrativos que levem à responsabilização e punição dos agressores.
Conforme o Estado publicou, nenhuma denúncia de estupro foi relatada à ouvidoria da instituição e só dois alunos, acusados de praticar abusos, fizeram uso do órgão. A reclamação de muitos alunos é de que são “desencorajados” por colegas e professores a fazer o relato.