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Para antropólogo, falta representatividade cigana na política

O antropólogo Nicolas Ramanush, cigano e fundador da ONG Embaixada Cigana do Brasil, afirma que o principal problema de sua etnia no País é a falta de representatividade. “O primeiro passo para uma verdadeira política de integração é articular, governo e acampamentos, lideranças nas próprias comunidades”, afirmou.

Para o especialista, que também dá aulas de Cultura Brasileira em um curso da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), os problemas como a baixa escolaridade têm mudado, mas não há diálogo entre a comunidade e o poder público.

“O grande problema não é a falta de construção de boas propostas. O que acontece é que os representantes escolhidos para atuar nos órgãos que trabalham conosco, na sua grande maioria, desconhecem completamente a realidade do que é um acampamento”, disse o antropólogo.

Ramanush explica que há, no Brasil, diferentes grupos étnicos entre os ciganos. O único que vive em acampamentos e, segundo ele, precisaria de auxílio do poder público, é o Calon. O grupo corresponde a pelo menos 75% de toda a população cigana no País, segundo levantamento da ONG.

“Infelizmente existe um rótulo generalizante que coloca os diversos grupos num mesmo rótulo e não traduz a realidade de cada um. Há o grupo Calon, que vivem em acampamentos, mas também há outros grupos como Roma, Calderara, Boiash e a Sinti, que é a minha, todas já integradas à sociedade”, afirmou. “Estes outros não precisam de política pública.”

De acordo com Ramanush, o grupo Calon chegou ao País em 1574, como degredados (condenados ao exílio, principalmente por crimes comuns)
“Eles chegaram à margem da sociedade. Muito tempo se passou e nunca se efetivou nada que os integrasse à sociedade. A grande maioria é analfabeta ou analfabeta funcional. Por isso, eles têm hábitos restritos dentro do grupo étnico a que pertencem.”

O principal trabalho desses ciganos está no comércio. “São pequenos comerciantes de ferramentas de construção, revenda de carros e outros produtos.”

A locomoção frequente dessa população, explica Ramanush, é decorrente da necessidade de procurar outros empregos. “Esgota-se a atividade num local, eles se mudam.”

Para ele, a maior luta dos ciganos hoje no País é o combate ao preconceito. “Lutamos contra o preconceito, os estereótipos e a generalização.”

Classes sociais

O especialista explica que, mesmo dentro de uma comunidade cigana, há diferentes níveis econômicos. “Alguns têm casa própria, mas utilizam o acampamento para estar com a comunidade, e também por uma comodidade de poder fazer negócio”. Segundo o antropólogo, a vivência nestas comunidades e até a locomoção é parte da cultura, mesmo quando o cigano têm boa renda. “A família não é só marido e mulher. É o grupo”. Alguns têm carros que custam mais de R$ 50 mil, conforme constatou a reportagem em visita a um acampamento em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. “O importante é não generalizar”, explicou.

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