Dois meses após recusar a criação de uma cátedra para o filósofo Michel Foucault, o cardeal d. Odilo Scherer, grão-chanceler da Pontifícia Universidade Católica (PUC), disse, em carta aberta publicada na segunda-feira, 29, que algumas decisões precisam ser tomadas, “mesmo quando não agradam a todos”.
“Reconheço e sei bem que é próprio da universidade colocar tudo em discussão, no afã de encontrar e expressar a verdade. Mas, quando se trata de tomar decisões, alguém precisa tomá-las, mesmo quando elas não agradam a todos”, disse Scherer em resposta às críticas recebidas da filósofa Marilena Chauí, que, em carta aberta, disse que a decisão de rejeitar a cátedra seria um “gesto de censura e intolerância”.
A cátedra é uma instância acadêmica destinada a fomentar o debate em torno de algum pensador e para preservar e atualizar seu trabalho. Foucault é conhecido por suas críticas às instituições sociais, entre elas a Igreja Católica. Além disso, era homossexual e morreu por complicações da aids. A cátedra foi proposta em 2011, quando a PUC recebeu uma doação de áudios de aulas de Foucault no Collège de France.
Em abril, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que o Conselho Superior da universidade recusou a cátedra motivado pelo fato de as ideias de Foucault não estarem em consonância com os princípios católicos, segundo a Associação de Professores da PUC (Apropuc). Até segunda-feira, ninguém do conselho havia se pronunciado sobre a decisão – Scherer faz parte do conselho.
“Será que ele negaria aos responsáveis pela decisão o direito de terem um pensamento próprio e de serem coerentes, em suas decisões, com as convicções que esposam? Provavelmente não. Mesmo não concordando com eles”, diz sua carta. O cardeal disse que a decisão “quase unânime” não demonstra “fato de censura ou intolerância contra atividades de pesquiso e ensino”.
O conselho entrou com recurso contra a decisão e, na quarta, Scherer publicou carta em que diz que vai avaliar o recurso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.