Tropas do Exército deixaram nesta sexta-feira (1º) quatro das 16 comunidades do Complexo da Maré, na zona norte do Rio, após 390 dias de ocupação militar. Os soldados foram substituídos por policiais militares, em mais uma etapa para a instalação de quatro Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) na região até março de 2016.
A troca de comando começou no início da madrugada. Segundo a PM, 400 policiais vão se revezar nas favelas Parque União, Nova Holanda, Rubem Vaz e Nova Maré, que concentram 39% dos 130 mil moradores do complexo. A venda de drogas nessas comunidades é controlada pelo Comando Vermelho, principal facção criminosa do Rio. Até o início da tarde não havia registro de confronto.
“Foi uma madrugada muito tranquila. A gente entra em uma região estabilizada, mas ainda com problemas sérios”, disse no fim da manhã o responsável pelo setor de Relações Públicas da PM, coronel Frederico Caldas. Também está prevista a entrada nessas favelas do Comando de Operações Especiais (COE), que reúne policiais do Batalhão de Choque, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Grupamento Aeromóvel e do Batalhão de Ações com Cães. “Já temos data e horário, que não serão revelados por questões estratégicas. Vamos fazer ações pontuais. Um feriado como o de hoje não é o momento apropriado para realizar essa operação”, disse Caldas.
Referindo-se às forças especiais da PM como “antibiótico”, o coronel afirmou que a ação policial na Maré será “diferente em todos os sentidos” da que ocorreu no Complexo do Alemão, que recebeu UPPs em 2012. Há um mês, Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, foi assassinado com um tiro de fuzil na cabeça durante ação de policiais da UPP do Alemão.
A ocupação militar da Maré completou um ano em 5 de abril e a previsão oficial é que as Forças Armadas deixem todas as comunidades até 30 de junho. De acordo com a PM, a primeira UPP será inaugurada em julho nas comunidades Praia de Ramos e Roquette Pinto, que eram dominadas por milicianos, onde o COE já atua desde o início de abril.
Na Vila dos Pinheiros, favela ainda ocupada por militares, pelo menos três tiros foram ouvidos por volta das 11 horas, em suposto confronto entre fuzileiros navais e traficantes do Terceiro Comando na localidade Salsa e Merengue. O comerciante Danilo Magalhães, de 32 anos, disse que sofreu um acidente com seu carro ao tentar desviar de um blindado da Marinha durante o tiroteio. O Citroën C4 estava com o farol quebrado e o para-choque danificado. O soldado de Minas Gerais que recebeu a queixa, em uma barricada na saída da favela, afirmou que o conserto seria providenciado pelo comando da tropa.
Iniciada três meses antes da Copa do Mundo de 2014, a ocupação militar da Maré, criticada por organizações de defesa dos direitos humanos, foi adiada duas vezes pela presidente Dilma Rousseff (PT) a pedido do governo do Estado. A previsão do governo é que 1.600 PMs atuem nas 4 UPPs da Maré. Dos 160 bairros do Rio, a Maré ocupa a 137.ª posição no Índice de Desenvolvimento Social (IDS), calculado pelo Instituto Pereira Passos (IPP), da prefeitura.