O prefeito do Rio, Eduardo Paes, reconheceu que há problemas na obra da Ciclovia Tim Maia, que teve parte de sua estrutura derrubada em meio a uma ressaca do mar, na zona sul do Rio, na última quinta-feira, 21. Embora tenha sido inaugurada há apenas três meses, vários trechos apresentam rachaduras. No entanto, a Prefeitura descarta a hipótese de demolição da estrutura.
Pelo menos duas pessoas morreram no desabamento de parte da ciclovia: o engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, e o gari comunitário Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos. Bombeiros ainda buscam os corpos de outras possíveis vítimas.
“É óbvio que se essa ciclovia tivesse sido feita de forma perfeita, não teríamos essa tragédia, esse absurdo. Então obviamente há problemas ali”, declarou Paes a jornalistas.
O prefeito diz que só poderá determinar as causas do acidente após a conclusão de duas auditorias, encomendadas ao Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH) e ao Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).
“Contratamos essa auditoria da Coppe e INPH para identificar isso tecnicamente e responsabilizar quem tiver que ser responsabilizado. Ou seja, se (houve) erro de projeto, erro de execução, erro de acompanhamento, de fiscalização. O que a gente pode responder neste momento é que está claro, não precisa nem ser olhado, é que as coisas não foram bem feitas ali”, completou o prefeito.
Parte da ciclovia permanece interditada indefinidamente, por determinação da Defesa Civil. O trecho que liga o Leblon à comunidade do Vidigal foi liberado para o uso da população. Segundo o prefeito, esse percurso já era utilizado pelos moradores e funcionava como uma espécie de passeio público, tendo recebido apenas reforço de pavimentação e contenção. Segundo ele, a Prefeitura não trabalha atualmente com a possibilidade de demolir a ciclovia. “Não é esse o nosso desejo, não é esse o nosso trabalho. Estamos trabalhando para mantê-la”, afirmou.
A Concremat, empresa que construiu a ciclovia, possui ainda contrato com a prefeitura do Rio para fazer o gerenciamento de sete obras ligadas à Olimpíada. Um desses contratos refere-se à própria ciclovia. No entanto, Paes explica que os contratos referem-se ao acompanhamento do cronograma da obra, e não à fiscalização da qualidade. “É uma especialidade da empresa”, defendeu.
Paes rechaçou insinuações de que a empreiteira – que pertence à família do secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Figueira de Melo – tenha sido beneficiada pelo governo do município. “A Concremat é uma empresa de mais de 60 anos, que trabalha para a prefeitura do Rio há muito tempo. É uma empresa respeitada no mercado, pelo menos até esse episódio”, disse.
No governo Paes, a Prefeitura do Rio desembolsou R$ 186 milhões em contratos firmados com a Concremat, um crescimento de 463% em relação ao período de 2000 a 2008, quando a empresa recebeu R$ 33 milhões em contratos com o governo.
Entretanto, Paes alega que todas as 350 empresas que trabalham para a prefeitura provavelmente tiveram aumento no volume recebido, porque o governo elevou em aproximadamente 900% o total de investimentos no período. O governo Paes investiu R$ 39,243 bilhões de 2009 a 2016, contra R$ 4,404 bilhões investidos no governo anterior, de 2000 a 2008. “É mais do que natural que uma empresa do tamanho da Concremat tivesse aumento nos repasses da Prefeitura”, defendeu Paes.
Quanto ao relatório da 2ª Inspetoria Geral de Controle Externo do Tribunal de Contas do Município (TCM), que apontou falhas na pista da ciclovia no trecho próximo ao mirante do Leblon que já havia sido concluído, Paes disse que todas as contestações foram acatadas, debatidas ou respondidas pela Prefeitura. Segundo o jornal O Dia, os técnicos do TCM encontraram trincas na pista, entre tampas de bueiro, além de depressões.
“O TCM faz permanentemente relatórios. Tudo é esclarecido. Essas fiscalizações vão contestando. Lá atrás, o tribunal de contas disse isso: olha, está prendendo demais, não precisa gastar tanto, não precisa de tanto pino. Mantivemos a tese da prefeitura (quantidade de pinos que fixavam a estrutura na base)”, justificou Paes.