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SP e Rio reduzem assassinatos enquanto Estados pobres veem violência se alastrar

Em dez anos, o crescimento chegou a áreas no Brasil nas quais não havia alcançado. Cidades no interior e nas regiões Norte e Nordeste viram aumentar sua renda e a capacidade de negócios. Com os recursos, no entanto, chegou a violência e a incapacidade do Estado de lidar com a migração das organizações criminosas. O Mapa da Violência 2015 – Mortes Matadas por Armas de Fogo, estudo do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz editado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) mostra que, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro, centros tradicionais de violência, tiveram quedas expressivas nos assassinatos entre 2002 e 2012, Estados pobres como Alagoas e Maranhão passaram a enfrentar epidemias crescentes de homicídios.

“A maneira de se conter uma epidemia é primeiro criar barreiras para que ela não se alastre, e depois combatê-la. Na virada do século o crescimento econômico começa a migrar para o interior, para fora dos grandes polos como São Paulo e Rio de Janeiro, e a violência vai também. Mas ela chega muito antes das estruturas de Estado. O Estado não está preparado para enfrentá-la”, analisa Waiselfisz.

Nos anos analisados pelo estudo São Paulo teve uma queda de 62,2% nos assassinatos por armas de fogo. No Rio de Janeiro, a redução foi de 54,9%. Mas apenas oito Estados tiveram queda, sendo que no Espírito Santo foi de apenas 1,3%. Na outra ponta, Amazonas, Ceará e Maranhão tiveram crescimentos assustadores, ultrapassando os 200%. Alagoas, que já estava entre os mais violentos, teve um crescimento de 119% nos homicídios por armas de fogo e tem hoje a mais alta taxa – 55 por 100 mil habitantes, idêntica a da Venezuela, o país mais violento do mundo entre os que não estão enfrentando algum tipo de conflito armado.

Novas estruturas criminais

A migração do crime, explica Waiselfisz, não é uma migração física, de bandidos mudando de Estado, mas a da criação de novas estruturas criminais fora dos eixos centrais. O sociólogo cita como exemplo a transferência, em 2003, de Fernandinho Beira Mar para um presídio em Alagoas. Com pouca segurança, o traficante carioca ajudou a montar uma estrutura criminosa do tráfico que atua hoje no Estado. “Foi ali que iniciou o crescimento do crime na região”, afirma Waiselfisz.

Do outro lado, a criação em 2000 do primeiro plano de segurança pública, acompanhado de fundo com recursos federais que foram repassados aos Estados que enfrentavam, na época, os maiores índices de violência, ajudou a baixar os níveis em São Paulo, Rio e Pernambuco, que estava então nos primeiros lugares. O autor do estudo lembra os investimentos feitos em São Paulo em tecnologia, reformas penitenciárias, formação de policiais e inclusive no programa de Escolas Abertas. No Rio de Janeiro, lembra, a queda começou em 2004, quatro antes da primeira UPP, também reflexo desse investimento. “Levou-se recursos federais para os estados onde havia mais violência e se elevou a capacidade de resposta, além do surgimento de poderosas entidades civis que atuaram fortemente para pressionar o governo”, explica.

Enquanto isso, Alagoas enfrentava uma greve de policiais por sete meses. No Maranhão, o sistema penitenciário se desestruturava completamente. Com o crescimento econômico acompanhado da falta de Estado, a violência explodiu.

Waiselfisz lembra, ainda, que uma das medidas de maior resultado no combate aos assassinatos por armas de fogo, a campanha de desarmamento, foi praticamente deixada de lado nos últimos anos. “No primeiro ano, foram recolhidas 450 mil armas Nos anos seguintes, um terço disso. São 16 milhões de armas circulando no Brasil, a metade irregulares. O desarmamento pode não ser tudo, mas é uma condição necessária para a pacificação”, afirma.

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