A dez dias da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo Senado, a rotina no Palácio do Planalto em nada se assemelha à resistência anunciada por movimentos sociais, sob gritos de “Não vai ter golpe!”. Em gabinetes da sede do governo, funcionários já encaixotam suas coisas e alguns tentam retornar para a repartição pública de onde foram transferidos, os chamados “órgãos de origem”.
O medo do desemprego agora ronda o Planalto, onde servidores já falam abertamente sobre a troca de comando e a passagem de bastão para o vice-presidente Michel Temer. A cena se repete na Esplanada.
Dos atuais 30 ministérios, 11 são controlados pelo PT. Atualmente, há em todo o governo cerca de 20 mil cargos em comissão, batizados de DAS (Direção e Assessoramento Superior). No fim do primeiro mandato de Dilma, somente a Presidência da República abrigava 3.279 servidores, incluindo os que trabalhavam em pastas como Casa Civil e Secretaria de Comunicação Social. Deste total, havia 1.020 DAS.
Os DAS representam o contingente mais suscetível a corte, pois são cargos de livre provimento. Na outra ponta, no comando dos ministérios, o entra e sai dos últimos dias reflete o abandono de Dilma por antigos aliados, que deixaram o governo atraídos pela expectativa de poder do PMDB.
Diante da certeza de que será afastada por até 180 dias, a presidente já combinou com a equipe a demissão coletiva. A ideia de Dilma é publicar uma edição extra do Diário Oficial da União, assim que o Senado aprovar o impeachment, com a dispensa de todos os ministros. Além disso, os secretários executivos também devem entregar os cargos.
Na prática, tudo está sendo preparado para que Temer, assumindo como interino, não tenha transição de governo. “E cada vez que houver tentativa de desconstruir o que construímos, vamos para o enfrentamento”, afirmou ao Estado o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que ocupou a Casa Civil por 20 meses e mudou de posto com a reforma administrativa, no ano passado, após muitos atritos com o PMDB de Temer.
Mercadante disse que, confirmado o cenário de impedimento da presidente, ficará com ela até o julgamento final do Senado, previsto para setembro, mesmo sem cargo. Os petistas apostam no desgaste de Temer à frente da administração e muitos avaliam que, com o vice “emparedado”, Dilma poderá ser reconduzida ao Planalto mais à frente.
“Estamos há mais de treze anos no governo, mas se esquecem que temos pós-doutorado em oposição”, comentou Mercadante, contabilizando o período em que o PT ocupou a Presidência com Luiz Inácio Lula da Silva. “Imaginem o MST, a CUT e a UNE com liberdade para gritar e protestar. É o que eles mais gostam de fazer.”
Desagravo
Os ministros também planejam uma manifestação de solidariedade a Dilma no dia em que ela for deposta pelo Senado. “Não vamos reconhecer um governo que não teve origem democrática”, insistiu o titular da Educação.
A estratégia de Lula e do PT, de agora em diante, consiste em colar em Dilma o carimbo de “mulher injustiçada”, que foi apeada do poder por um “golpe”. É uma narrativa que pode até servir para a campanha deste ano, quando haverá disputas pelas Prefeituras, mas está sendo montada sob medida para se encaixar no figurino de 2018.
Pragmático, Lula se reaproximou dos movimentos sociais e com eles fará forte oposição a Temer. Agora, só depende do desfecho da Operação Lava Jato para lançar sua candidatura ao Planalto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.