A Avenue Securities é uma corretora americana que fala português. Aberta no ano passado por um grupo de brasileiros, a empresa concluiu na semana passada sua primeira aquisição: a carteira de clientes da plataforma Drive Wealth. O negócio fez o número de investidores praticamente dobrar e ficar próximo de 100 mil. Isso significa um total de ativos sob custódia de US$ 200 milhões. O sócio Roberto Lee, ex-XP, Clear e Ágora, diz que esse foi um passo importante para a internacionalização da Avenue, que em breve vai oferecer também outros serviços financeiros na plataforma.
Nessa crise, ele enxerga um movimento de flight to quality, ou seja, a procura de qualidade de ativos para preservação de patrimônio dos investidores. "A diversificação internacional para proteção de poder de compra é uma transformação que vamos ver acontecer", diz Lee, que está em Miami.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
<b>Que percepção o sr. tinha sobre as bolsas de valores antes da crise?</b>
Os mercados estavam nas máximas históricas, mas com múltiplos dentro da normalidade, diferentemente do que acontecia em 2001. Era esperada uma correção de preços, mas nem perto do que a gente vê.
<b>A crise tem sido diferente nos EUA e ao redor do mundo?</b>
Quando se fala no sistema financeiro, sinto uma diferença sobre como a crise tem sido tratada aqui nos EUA em comparação aos países emergentes, principalmente o Brasil. Enquanto aqui vemos uma cautela um pouco maior, no Brasil sinto um pouco de euforia nas pessoas que chegaram agora ao mercado financeiro. Aqui temos visto mais buscas por proteção e menos buscas por oportunidades. O americano usa a máxima de esperar a faca cair para começar a olhar as oportunidades.
<b>Há ligação entre a maturidade do mercado americano em comparação com a do mercado brasileiro? </b>
Não tenho dúvida. A maturidade não é só em achar o momento certo para se expor, que até pode ser o atual, mas achar o capital correto para se expor. O que a gente percebe daqui é a busca pela preservação de capital, as pessoas estão mais conservadoras. No Brasil, obviamente à distância, tenho me preocupado com o movimento de busca por oportunidades em vez de segurança.
<b>Como o mundo vai sair dessa crise?</b>
Há dois tipos de crises, as financeiras e as sociais. As financeiras não promovem tantas transformações, mas as sociais sim. Em 2001, depois do ataque terrorista às Torres Gêmeas, em Nova York, o mundo se transformou e até hoje vivemos os efeitos dessa transformação. Desta vez, tende a acontecer a mesma coisa. O mundo vai sair muito mais global, mais conectado. As informações vão rodar mais fluidamente de uma região para outra.
<b>Haverá, também, uma mudança no perfil das carteiras de investimento?</b>
Com certeza. O que temos visto aqui, até pelos picos de demanda dos últimos dias, infelizmente pela dor do momento, é uma percepção de que a diversificação financeira internacional é fundamental não só para busca de oportunidades, mas fundamentalmente para proteção e preservação de capital. É o que tem acontecido neste momento.
<b>Isso significa ter ativos de todos os lugares do mundo? </b>
Essa demanda vai crescer muito. Sempre houve uma tendência, mas o acesso nunca foi dado no Brasil, a não ser para investidores muito grandes e institucionais. O varejo sempre ficou fora desse acesso. O que acontece quando vem um momento como esse é que a nação, em termos de população, empobrece tremendamente. Agora, com a demanda latente, aprende-se pela dor que a diversificação internacional para proteção de poder de compra é uma transformação que vamos ver acontecer.
<b>Mas esse pequeno investidor tem receio de enviar dinheiro para o exterior, não?</b>
No imaginário popular, diversificação internacional beira a ilegalidade. Enquanto a parcela mais rica e informada tem exposição internacional há muitos anos, a população fica à mercê de uma poupança puramente doméstica. O acesso nunca foi dado – e entenda-se aí a informação e a educação financeira. A internacionalização de poupança é uma das transformações que a gente deve ver nas sociedades.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>