O italiano Scotti Pasquale, acusado de ser o chefe do braço armado da máfia Camorra Napolitana, desembarcou em Brasília na manhã desta quarta-feira, 27, escoltado por três homens da Polícia Federal. Ele foi preso na terça-feira, 26, no Recife e transferido para a Superintendência da PF na capital federal, onde aguardará autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para que seja levado a um presídio de segurança máxima até que a decisão sobre sua extradição seja concluída.
A viagem para Brasília foi em voo comercial e não em aeronave da PF. Ele viajou escoltado e, ao desembarcar por volta das 9h30, foi resgatado já na pista do aeroporto, sem transitar pelo saguão de desembarque.
Pasquale foi condenado na Itália por 26 assassinatos, entre outros crimes. Ele estava foragido há 29 anos e vivia na capital pernambucana com a identidade falsa de Francisco e Castro Visconti, um empresário de hábitos simples. Na Itália, se especulava que ele estivesse morto.
O Ministério da Justiça da Itália foi notificado da prisão pelo governo brasileiro e tem 40 dias para enviar documentos ao país solicitando a extradição. A decisão final sobre a expulsão de Pasquale do Brasil, contudo, caberá ao STF.
O Brasil chegou ao mafioso a partir de informações da Polícia Federal na Itália. Uma investigação naquele país levantou suspeitas de que cerca de dez pessoas estariam vivendo no Brasil e teriam ligações com a máfia. Com o avanço das apurações, o cerco se fechou em torno de Pasquale. A PF no Brasil conseguiu chegar a verdadeira identidade do italiano comparando impressões digitais fornecidas pela Itália.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que Pasquale recebia anualmente uma pessoa que lhe traria informações sobre a atividade da máfia, embora já estivesse “aposentado” do cargo de chefe do braço armado da Camorra. A PF investigará se ele era sustentado no Brasil pelos mafiosos na Itália.
No depoimento à PF no Recife, Pasquale não comentou sobre seu envolvimento com a máfia italiana. Ele admitiu, contudo, que ingressou no Brasil por volta de 1986 e quando já estava aqui comprou registro geral (RG), cadastro de pessoa física (CPF) e um passaporte falso na cidade de Fortaleza.
Pasquale contou aos policiais que fugiu da Itália quando estava sendo processado criminalmente e não havia condenação definitiva. Ele afirmou que não saberia dizer quais os fatos que levaram à sua condenação, mas que “certamente era acusado de extorsão e organização criminosa”.
Ele decidiu ficar no Brasil após conhecer outro italiano, um empresário aposentado, e constituir a Brockers Comercio Importação e Exportação de alimentos. Os dois também foram sócios em uma boate de strip-tease no Recife, a Sampa.
Um dirigente da boate afirmou para a reportagem, sob condição de anonimato, que Pasquale foi sócio por alguns meses quando seu pai era o dono da boate há 20 anos. Conforme os investigadores, não há nenhuma relação desse ex-parceiro de negócios, já morto, com a máfia.
Atualmente, Pasquale disse que trabalha como funcionário de uma fábrica de fogos de artifício no Recife. O ex-sócio morreu no ano passado.
Segundo a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), Scotti Pasquale escondeu até mesmo da mulher brasileira e dos dois filhos sua verdadeira identidade. Ao ser preso, após deixar as crianças na escola na manhã desta terça-feira, ele disse aos policiais: “Pasquale não existe mais. Eu sou só o Francisco”.
Conforme os investigadores, o mafioso mantinha hábitos simples. “Ele tinha uma vida de empresário, não ostentava riqueza, fazia questão de ter uma vida reservada”, afirmou o chefe da Interpol no Brasil e delegado da PF, Valdecy Urquiza Junior.