Microfones direcionais e câmeras pouco usuais no cotidiano da cobertura jornalística têm provocado tensão nos corredores do Senado. O julgamento do impeachment de Dilma Rousseff despertou o interesse de três diretoras de cinema, que passaram a frequentar a Casa, não passam despercebidas num batalhão de profissionais de mídia que se acotovelam nas galerias do plenário e nas entrevistas de senadores.
Maria Augusta Ramos, Petra Costa e Anna Muylaert são consideradas seres estranhos numa casa onde opositores e governistas, assessores e jornalistas, lobistas e representantes de partidos se conhecem e monitoram os passos uns dos outros. Na sexta-feira, 26, uma repórter se queixou para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), da dificuldade de conversas reservadas. “Sempre que busco um off, tem um microfone gigante na minha cabeça”, reclamou. Um radialista andou preocupado porque seus palavrões contra um senador foram captados por um dos “monstrengos”. De repente, quem está na frente ou atrás das câmeras se viu dentro da história do impeachment.
Diretora de filmes premiados em festivais internacionais, como Desi, Justiça, Juízo, Futuro Junho e Seca, a brasiliense radicada na Holanda Maria Augusta Ramos decidiu fazer o filme há apenas três meses. “Meu trabalho é entrar na intimidade das pessoas, é baseado na observação, uso poucas entrevistas. Então, preciso da confiança das pessoas”, afirma. “Não vou filmar o senador que é a favor do impeachment de maneira diferente do senador que é contra.”
Antes que alguém procure adivinhar sua posição sobre o impeachment, a cineasta diz que não tem interesse em dar uma resposta usando suas próprias palavras. “As duas horas de filme e as impressões que filmei serão a minha visão sobre o impeachment”, afirma. “A proposta é refletir sobre este momento, não ser um filme panfletário a favor ou contra. A realidade fala por si só.”
Mineira formada em Nova York, Petra Costa, diretora de Elena, afirma que o momento é de tentar apurar e filmar todos os detalhes. “(Tento) registrar o máximo dos dois lados, sair do preto e branco, pegar as nuances”, afirma. Ela admite enfrentar um estranhamento no ambiente do Senado. “Se eu já soubesse (o resultado) provavelmente o filme seria ruim.”
A documentarista observa que filma um fato histórico. “Quando eu pensava em algo nessa magnitude no Brasil, tinha de olhar para um fato que não testemunhei, o impeachment do (ex-presidente Fernando) Collor, quando eu era muito nova”, afirma.
Preocupação
Senadores a favor do impeachment ensaiaram uma campanha contra os filmes sob o argumento que os documentários farão uma “narrativa do golpe”. Entre os motivos dos protestos está o fato de senadores petistas terem colocado seus gabinetes à disposição das equipes de documentários. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.