Ao apontar o ex-ministro dos Transportes argentino Ricardo Jaime como provável beneficiário de propina da Odebrecht, o Ministério Público brasileiro incluiu na Operação Lava Jato o rosto mais associado à corrupção na era Kirchner. Esse engenheiro de 61 anos foi acusado em mais de 30 causas judiciais e tem 20 em andamento.
Na mais conhecida delas, foi condenado a 6 anos de prisão por fraude administrativa na investigação de um acidente ferroviário que matou 55 em 2012. Na ocasião, um trem colidiu contra a plataforma da Estação Once, uma das principais de Buenos Aires.
Concluiu-se que as compras feitas no papel por Jaime não condiziam com os vagões que circulavam. Ele ainda espera por uma decisão final da Justiça.
No ano passado, Jaime admitiu ser corrupto. Devolveu 2 milhões de pesos para não enfrentar um ano e meio de prisão. Entre outros delitos pelos que responde, estão enriquecimento ilícito, abuso de autoridade, associação ilícita e lavagem de dinheiro. Não há ex-companheiros que o defendam.
“Meu cliente não dá entrevistas há sete anos. Não sabemos do que se trata essa acusação”, disse na segunda-feira, 22, ao jornal O Estado de S. Paulo o advogado Andrés Marutian, de Nova York, encarregado da defesa de Jaime.
Em boa parte das acusações pelas quais Jaime é investigado, aparece a figura do lobista espanhol Manuel Vázquez. Entre 2004 e 2005, segundo o jornal Clarín, esse assessor que não tinha escritório no governo participou de 22 reuniões de Jaime com empresários.
Segundo o Ministério Público brasileiro, Vázquez reclamou com um diretor da Odebrecht, em uma troca de e-mails, sobre a falta de um pagamento em março de 2010, fim do primeiro mandato de Cristina Kirchner. Vázquez é suspeito de captar dinheiro para campanhas kirchneristas. Ele não foi encontrado pela reportagem para comentar as acusações.
Ainda segundo o MP brasileiro, Vázquez e o diretor da empresa citam nos e-mails o aterramento da linha de trem metropolitano Sarmiento, provavelmente a obra que motivou a propina. O MP sugere que as provas reunidas sejam passadas à Justiça argentina.
A construção desse túnel foi retomada na semana passada pelo presidente Mauricio Macri, cujo pai, o megaempresário Francisco, intermediou negócios de Jaime com exportadores de vagões chineses. A compra feita em 2008 foi alvo de denúncias do atual presidente, em uma época em que ele mantinha fortes divergências com o patriarca Macri, um dos maiores concessionários kirchneristas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.