Depois de décadas de crescimento da mortalidade masculina por câncer de pulmão, levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostra que houve redução dessa taxa – o número de homens mortos em decorrência da doença passou de 18,5 por 100 mil habitantes para 16,3 por 100 mil, comparando-se os anos de 2005 e 2014. É a primeira vez que essa queda aparece nas pesquisas. Mas o mesmo fenômeno não se repete entre as mulheres. Nesse período, a taxa de mortalidade feminina passou de 7,7 para 8,8 em 100 mil habitantes. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, 29, em cerimônia de comemoração dos 30 anos do Dia Nacional de Combate ao Fumo, na Casa Brasil, na zona portuária.
A redução da mortalidade masculina por câncer de pulmão está ligada a diminuição no número de fumantes no Brasil. Em 1989, 34,6% da população brasileira de 18 anos ou mais fumava. Essa proporção caiu para 14,7% em 2013. Mas enquanto o tabagismo se tornou “epidemia” entre os homens nas décadas de 1940 e 1950, isso só ocorreu entre as mulheres nos anos de 1970 e 1980. Como o câncer de pulmão é doença que leva 20 anos para se desenvolver, a mortalidade feminina ainda está sob impacto do aumento do consumo do cigarro a partir dos anos de 1970.
A pesquisa Câncer de Pulmão – Tendências de Mortalidade e Fatores Associados à Sobrevida do Paciente do Inca, da epidemiologista Mirian Carvalho de Souza, mostra que na década de 1980 a mortalidade masculina por câncer de pulmão era de 14,8 por 100 mil habitantes. Estabilizou entre 1995 e 2005, quando chegou a 18,5 por 100 mil. E baixou para 16,3. Já entre as mulheres, essa taxa era de 4,4 por 100 mil em 1980. Foi a 7,7 por 100 mil em 2005; atingiu 8,8 em 2015; e não dá sinais de que vá estabilizar.
“A epidemia entre as mulheres aconteceu bem depois dos homens. Em vários lugares, era até proibido mulher fumar nos anos de 1940, 1950. Isso muda. No Brasil, teve o lançamento da marca Charme, voltada para mulheres, na década de 70. E a mulher cai nesse engodo de que é bom fumar, que é chique. Durante muito tempo a indústria convenceu que era importante ter o cigarro entre os dedos. Infelizmente essa turma de mulheres que caiu nessa esparrela adoeceu. E agora estamos vendo esse aumento da mortalidade por câncer entre as mulheres. Mas se conseguirmos impedir as novas de começarem a fumar e fazer com que as que estão fumando larguem o cigarro, a gente vai ver a redução da mortalidade também entre as mulheres”, afirmou a gerente da Divisão de Pesquisa Populacional do Inca, Liz Almeida.
O trabalho estabelece ainda a estimativa de vida do paciente com câncer de pulmão atendido no Inca. A probabilidade de o paciente estar vivo após cinco de acompanhamento médico, quando eles começaram o tratamento no estágio inicial, é de 25%. Enquanto para o estágio 4, o mais grave, quando o paciente já apresenta metástase, essa chance cai para 2,5%. “O câncer de pulmão é uma doença de difícil diagnóstico; o sintoma inicial é a tosse, que se confunde com pneumonia. Quando o paciente chega ao hospital, muitas vezes há muito pouco a ser feito. O que a gente tem de fazer é prevenir a iniciação ao tabagismo. O jeito de não morrer de câncer de pulmão é não ter a doença”, afirmou Mirian.
Para prevenir a doença, o Inca lançou a campanha” #MostreAtitude: sem o cigarro, sua vida ganha mais saúde”, voltada para o público jovem, na Casa Brasil, uma das casas temáticas dos Jogos Olímpicos. Vinícius Pontes, de 36 anos, atleta de rúgbi e tênis nos Jogos Paralímpicos, participou do lançamento da campanha. Fuzileiro naval, foi reformado aos 23 anos, depois que um acidente de moto lhe tirou o movimento das pernas e do braço direito. “Eu me senti excluído socialmente. Já não podia beber. Eu fumava desde os 19 anos, mas passei a fumar um maço por dia. Foi quando um amigo me chamou para praticar rúgbi. Minha sobrinha estava para nascer, tinha meu filho. Não queria servir de mau exemplo para as crianças”, conta ele.