O diretor artístico do Teatro Municipal de São Paulo, John Neschling, um dos investigados pelo Ministério Público Estadual (MPE) por suspeita de participação no esquema de corrupção que teria desviado ao menos R$ 15 milhões da casa de espetáculos, afirmou no domingo, 4, que não vai deixar o cargo – ele recebe R$ 150 mil mensais. Em nota, o maestro informou que marcou um encontro com o prefeito Fernando Haddad (PT) na última sexta-feira para tratar do assunto e recebeu dele o apoio necessário para sua decisão.
“No nosso encontro, ele (Haddad) me reafirmou o que vem dizendo publicamente, que apenas por uma determinação clara da Controladoria(caso houvesse provas ou indícios de malfeitos da minha parte – o que não era o caso), ele me demitiria. Afirmou, no entanto, que entendia minhas dificuldades e garantiu que respeitaria qualquer decisão que tomasse”, disse Neschling.
Segundo a assessoria de imprensa da gestão Haddad, a reunião aconteceu um dia antes, na quinta-feira, dia 1.º, e não foi divulgada publicamente na agenda diária do prefeito por se tratar de “assuntos internos”.
Mobilização
No sábado, reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que três órgãos da administração municipal estão mobilizados para suspender o contrato do maestro, por meio de seus comandantes diretos: o corregedor-geral Daniel Gaspar de Carvalho, o controlador Gustavo Gallardo e o secretário de Negócios Jurídicos, Robinson Barreirinhas.
A análise é que as suspeitas sobre a participação de Neschling no escândalo e também do secretário municipal de Comunicação, Nunzio Bruguglio Filho – ambos negam -, pode prejudicar o desempenho de Haddad, que tenta a reeleição.
Essa movimentação contra a permanência do maestro ganhou força dentro na Prefeitura na semana passada, após o Tribunal de Contas do Município (TCM) considerar, por unanimidade, irregular o contrato firmado com o Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), responsável pela gestão do Teatro Municipal.
A saída de Neschling ainda é defendida pelos promotores que investigam o caso, por parte dos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada na Câmara Municipal para apurar os desvios na instituição e também pelo ex-chefe de gabinete de Haddad, Paulo Dallari, que atuou nos últimos meses como interventor do IBGC a pedido do prefeito, mas deixou o cargo por discordar da permanência do músico.
Também na semana passada, a Polícia Federal informou aos parlamentares que compõem a CPI que o passaporte do músico seria apreendido, conforme requerimento aprovado na Câmara, o que agravou a situação. A decisão foi posteriormente revertida pela defesa do maestro.
Crime
Segundo o Grupo Especial de Combate a Delitos Econômicos (Gedec), do Ministério Público, os desvios ocorreram entre 2013 e 2015, quando teria funcionado um esquema de uso de notas frias e aditivos irregulares em contratos, entre outras práticas. No Gedec, os suspeitos são investigados por lavagem de dinheiro, corrupção e associação criminosa.
Além de Neschling, são alvo do Ministério Público o ex-diretor da Fundação Theatro Municipal José Luiz Herência e o ex-diretor do IBGC William Nacked. Ambos firmaram acordo de delação com o MPE e se comprometeram a devolver cerca de R$ 10 milhões aos cofres públicos. Já a Promotoria do Patrimônio Público apura, na área cível, possível má gestão do dinheiro público. Neste caso, estão incluídos Haddad e o ex-secretário da Cultura Juca Ferreira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.