Os movimentos sociais começam a debater uma resposta ao que consideram uma crescente ofensiva de setores da direita contra a institucionalidade democrática. Ao mesmo tempo em que condenam articulações para o impeachment da presidente Dilma Rousseff ou para sua cassação, as lideranças não apoiam abertamente a gestão da petista e fazem questão de destacar as críticas. “Não podemos defender um governo que tem se tornado cada vez mais indefensável, que quanto mais acuado mais cede para a direita. Temos que enfrentar esse golpismo da direita, mas isso não significa defender o governo”, disse Guilherme Boulos, líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
Na tarde de segunda-feira, 6, o MTST coordenou uma reunião com outros movimentos, como os estudantis UNE e UBES, as centrais Intersindical, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), o coletivo Juntos, além de representantes do PSOL. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), historicamente ligada ao PT, não participou por uma questão de agenda, mas informou que pretende estar presente nas discussões. O encontro deu continuidade a debates que têm como mote central “contra a direita por mais direitos”, mas tratou do cenário político do País, após um fim de semana com subida de tom do PSDB e de setores do PMDB por um afastamento de Dilma do poder.
A reunião marcou uma data, ainda preliminar, de manifestação no dia 20 de agosto. Seria uma resposta ao 16 de agosto, quando estão previstos protestos pelo País, organizados por movimentos que defendem o impeachment da presidente, como o Vem Pra Rua, o Revoltados Online e o Movimento Brasil Livre. Segundo lideranças dos movimentos, o 20 de agosto ainda centraria na defesa dos direitos dos trabalhadores e de minorias, contra a pauta “conservadora” do Congresso Nacional, mas a depender da temperatura dos debates em torno de impeachment, pode tomar um mote mais claramente contra o “golpismo”.
“O PSDB tem caminhado a passos largos em direção ao golpismo. Desde a derrota eleitoral, figuras expressivas do PSDB têm defendido a quebra institucional, a derrubada do governo. O PMDB sempre fez a política da conveniência, então não é novidade que abandone o barco quando está afundando. Agora, ninguém da esquerda está vendo com tranquilidade essa movimentação da direita”, disse Boulos.
“A derrubada do governo Dilma, na minha opinião pessoal, seria uma tragédia, viria algo ainda pior, mais comprometido com o capital financeiro. Qualquer processo que aprofunde o controle da direita sobre o Congresso, sobre o governo, é ruim para os trabalhadores”, afirmou Edson Carneiro, o Índio, secretário-geral da Intersindical. O líder sindical também destaca o não apoio ao governo e considera pífios os acenos recentes de Dilma para a base social e trabalhista, com a proposta alternativa ao fator previdenciário e o Programa de Proteção ao Emprego anunciado ontem. “A saída para a questão do emprego não é reduzir salários, é mudar essa política econômica recessiva. Tem que baixar juros, mudar política cambial”, afirmou.
De acordo com Boulos, a articulação que começou ontem é exclusiva dos movimentos e não houve qualquer conversa com interlocutores do governo sobre a manifestação. Na semana que vem deve haver outra reunião dos movimentos para debater conjuntura e falar da organização dos atos previstos para o dia 20.