Juros avançam com percepção de piora fiscal em função da pandemia

Os juros futuros terminaram o dia em alta, que ganhou impulso no fechamento, após a informação de que os governadores estão pedindo ao Executivo um aumento no valor do auxilio emergencial. As taxas até começaram bem a quarta-feira, em queda, mas o sentimento de cautela voltou a dominar as mesas, alimentando a tendência recente de inclinação da curva, num dia muito ruim para o real. O dólar voltou a testar os R$ 5,60 e as taxas longas tiveram avanço de mais de 20 pontos-base.

A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 terminou em 4,73%, de 4,685% no ajuste anterior e a do DI para janeiro de 2025 fechou acima de 8% pela primeira vez em um ano, a 8,15%, maior desde 24 de março de 2020, ante 7,916% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 8,70%, de 8,434% no ajuste anterior.

Pela manhã, as taxas, que vêm subindo desde o fim do Comitê de Política Monetária (Copom), chegaram a ensaiar melhora e alguma correção, na esteira da queda do rendimento dos Treasuries, mas o movimento teve vida curta e ainda na primeira etapa a postura defensiva voltou a prevalecer. "Os Treasuries têm um papel tradicionalmente importante para os ativos, mas no momento o ambiente interno é muito preocupante", afirma o operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos André Alírio.

Segundo Alírio, há grande incerteza sobre qual será o impacto predominante da pandemia, se o fiscal ou da atividade fraca. Dado o desenho da curva, ele acredita que o mercado pode estar subestimando as consequências para a atividade. Parte do mercado também viu o Banco Central fazer o mesmo na ata do Copom. "As expectativas para a Selic parecem estar infladas. Não adianta muito fazer aposta agressiva, pois a situação da pandemia é complexa. O valor do auxílio emergencial não é mesmo de 2020", disse.

A questão é que, com a totalização de 300 mil mortes por covid no País, colapso do sistema de saúde e medidas de restrição à circulação e ao comércio cada vez mais duras, a pressão sobre o cenário fiscal cresceu. Nesta quarta, governadores de 16 Estados enviaram carta aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), pedindo elevação do valor do coronavoucher para R$ 600, superior aos estabelecidos pelo governo federal em medida provisória, de R$ 175, R$ 250 e R$ 375. Querem ainda que sejam mantidos os critérios de acesso adotados nos oito desembolsos feitos em 2020.

Nesse quadro nublado, há dúvida sobre se o Banco Central conseguirá aplicar, de fato, o aperto monetário embutido na curva. "Avaliamos que os juros precificando Selic acima de 6% até o final do ano estariam exagerados. O Bacen deverá perseguir uma inflação mais baixa do que as estimativas próximas de 5%, e por isso, estimamos Selic de 5,75% para calibrar um IPCA de 2021 mais próximo de 4,4% de 2020", afirma Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust.

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