A ciência reconhecia até hoje a existência de uma única espécie de girafas, que se subdividiam em diversas subespécies. Mas um grupo de cientistas da Alemanha realizou a maior análise genética feita até hoje sobre o animal e concluiu que existem quatro espécies diferentes de girafas no mundo.
Segundo os autores do estudo, publicado nesta quinta-feira, 8, na revista Current Biology, embora todas as quatro espécies de girafas tenham aparência muito semelhante, suas diferenças genéticas são tão grandes quanto as existentes entre ursos pardos e ursos polares. De acordo com eles, a descoberta tem implicações importantes para a conservação do mais alto dos mamíferos: algumas das novas espécies estão mais ameaçadas de extinção do que se poderia imaginar.
“Ficamos extremamente surpresos, porque há muito poucas diferenças da morfologia e dos padrões da pelagem entre as girafas. Por causa dessa semelhança, partimos do pressuposto de que todas as girafas têm os mesmos requisitos ecológicos. Mas ninguém sabe de fato, porque esse animal tem sido bastante negligenciado pela ciência”, disse um dos autores do estudo, Axel Janke, geneticista da Centro de Pesquisa em Clima e Biodiversidade da Universidade Goethe (Alemanha).
As girafas passam por um dramático declínio na África, segundo o pesquisador. O número de indivíduos caiu de 150 mil para menos de 100 mil nos últimos 30 anos. Apesar disso, segundo Janke, pouca pesquisa foi feita sobre as girafas, em comparação a outros grandes mamíferos como elefantes, rinocerontes, gorilas e leões.
Segundo Janke, há cinco anos ele foi procurado por Julian Fennessy, da Fundação de Conservação de Girafas da Namíbia, que lhe pediu ajuda para testes genéticos com esses animais. Fenessy queria saber até que ponto havia semelhanças entre as girafas que viviam em diferentes partes da África, se o deslocamento das girafas ao longo do tempo havia “misturado” diversas espécies e subespécies e quais seriam as consequências de novos deslocamentos de girafas nas áreas protegidas.
No novo estudo, Janke e sua equipe examinaram o DNA extraído de biópsias da pele de 190 girafas coletadas por Fennessy e seu grupo na África, incluindo regiões onde há guerras civis. A ampla quantidade de amostras inclui populações de todas as nove subespécies de girafas previamente reconhecidas pela ciência.
A análise genética mostrou que há quatro grupos distintos de girafas que, aparentemente, não se reproduzem entre si na natureza. Consequentemente, segundo Janke, as girafas devem ser reconhecidas como quatro espécies diferentes.
Os cientistas classificaram as quatro espécies como a girafa do sul (Giraffa giraffa), a girafa Masai (Giraffa tippelskirchi), a girafa reticulada (Giraffa reticulata) e a girafa do norte (Giraffa camelopardalis) – que inclui a girafa núbia (Giraffa ccamelopardalis camelopardalis) como subespécie.
Segundo Fennessy, o estudo revela que a girafa núbia – que vive na Etiópia e na região sul do Sudão e foi a primeira a ser descrita pela ciência, há cerca de 300 anos – faz parte da espécie das girafas do norte.
A descoberta tem impacto importante para a conservação da biodiversidade, segundo os autores. A Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês) publicou recentemente uma reavaliação da situação das girafas na Lista Vermelha das espécies, por conta de seu rápido declínio nas últimas três décadas.
“Agora que sabemos que são quatro espécies distintas, o estado de conservação de cada uma delas precisa ser redefinido e revisto na Lista Vermelha da IUCN. Trabalhando em colaboração com os governos africanos, o apoio continuado da Fundação pela Conservação das Girafas e seus parceiros podem destacar a importância de cada uma dessas espécies e iniciar um esforço de conservação, além de levantar recursos para melhorar a proteção desses animais”, afirmou Fennessy.
“Estimamos, por exemplo, que só tenham restado 4750 indivíduos da girafa do norte na natureza. O número de indivíduos da girafa reticulada não passa de 8700. Como são espécies distintas, elas passam a figurar entre os grandes mamíferos mais ameaçados do mundo”, explicou.