O ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS) acredita que o afastamento do correligionário Eduardo Cunha da presidência da Câmara seria prudente em um momento de turbulência política e econômica, que vem sendo acentuado pelos recentes acontecimentos envolvendo o parlamentar, principalmente depois que ele rompeu com o governo de Dilma Rousseff (PT). “A posição dele ficou muito delicada”, disse o político gaúcho em entrevista exclusiva ao Broadcast Político, serviçod e notícias em tempo real da Agência Estado.
Nos últimos dias, outros líderes históricos do PMDB, como o deputado federal Jarbas Vasconcelos (PE) e o senador Roberto Requião (PR), criticaram a decisão unilateral de Cunha e questionaram sua continuidade à frente da Câmara até o esclarecimento das acusações que pesam contra ele. Em depoimento à Justiça Federal na semana passada, o delator da Lava Jato Júlio Camargo disse que Cunha teria cobrado propina de US$ 5 milhões em um contrato de navios-sonda da Petrobras.
A denúncia do delator foi o estopim para o rompimento do peemedebista com o governo. “Ele (Cunha) é inimigo do Executivo, e inimigo ele pode ser. Agora, presidente da Câmara e inimigo do governo é uma coisa complicada. E com essas acusações então…”, avaliou o político gaúcho. “O ideal, nesse sentido, seria o afastamento dele.”
Longe de Brasília desde janeiro, quando encerrou seu quarto mandato como senador, Simon, de 85 anos, tem se dedicado a participar de palestras e seminários em diferentes cidades brasileiras. Ele reconhece que acompanha o cenário político à distância, mas descarta que a atitude de Cunha, de caráter pessoal, provoque uma ruptura do PMDB com o governo petista, e diz que a prioridade, neste momento, deve ser a busca de um entendimento entre os diferentes agentes políticos para enfrentar a crise vivida pelo Brasil.
“Não há uma pauta (comum). O presidente da Câmara tem a dele, o presidente do Senado tem a dele. Mesmo dentro dos partidos, cada um tem a sua”, disse. Para ele, faltam líderes que pensem de forma coletiva, mesmo fora do cenário político. “Alguém tem que fazer isso. Não tem bombeiro, só tem incendiário.”
Ele cita como exemplo os movimentos sociais que eclodiram em 2013 e hoje perdem força justamente pela dificuldade de encontrar um denominador comum. De acordo com o ex-senador, o próprio Eduardo Cunha perdeu a oportunidade de conduzir um processo que levasse a uma reforma política mais próxima do que a população esperava. “Estive no Senado por 32 anos e nunca vi o Congresso com tamanha disposição de fazer reformas. Acontece que as reformas que precisamos devem ter conteúdo e a participação da sociedade. Não devem ser reformas que tenham uma disputa entre Câmara e Senado, entre Congresso e Presidência da República”, argumentou.
Fator Temer
Simon lembra que desde o início do segundo mandato de Dilma, quando já havia sinais de que o cenário político seria desafiador, defendia que a presidente buscasse apoio em diferentes partidos e setores para criar um ambiente mais favorável ao País. O papel conciliador, segundo ele, tem sido desempenhado principalmente pelo vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer. “Ele está tendo uma atitude de bom senso, de equilíbrio”, afirmou. “A Dilma tinha que tomar uma posição, fazer um chamamento para que a coisa fosse adiante. Caso contrário, ela pode ficar como uma marionete, para lá, para cá, sem dizer nada.”
Embora sustente há anos a ideia de que o PMDB tenha independência e candidato presidencial próprio – nas eleições de 2014 o ex-senador apoiou Marina Silva, que concorria pelo PSB -, Simon é contra uma ruptura com o governo no curto prazo. “O momento é de saída da lama em que nos encontramos. Ninguém está ganhando com isso, nem o PSDB. O que há é uma mágoa geral da sociedade com toda a classe política”, avaliou. “Está claro que o PMDB vai ter candidato (em 2018), mas não é hora de fazer rompimento.”
A opinião coincide com as recentes declarações de Temer. Nesta terça-feira, 21, ao participar de um evento em Nova York, o vice-presidente disse que pode ocorrer “um dia” de o PMDB deixar o governo, especialmente se tiver candidato em 2018. “É uma questão que será examinada daqui para frente”, falou nos EUA.
Segundo Simon, os desdobramentos da operação Lava Jato e a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) com relação à aprovação ou reprovação das contas do governo federal em 2014 tendem a tornar o ambiente em Brasília ainda mais turbulento, mas caberá a Temer “acalmar o PMDB” e “fazer o entendimento geral”.