O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), levantou dúvidas na tarde desta terça, 15, se a ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Palácio do Planalto como ministro pode mudar o cenário político para salvar o governo Dilma Rousseff. “Efetivamente não sei se é a melhor saída para nenhum dos dois. Isso não vai mudar o cenário e não sei para quem isso é bom”, comentou.
O peemedebista lembrou que a base já passa por um processo de deterioração e que não há perspectiva de melhora do ambiente em favor do governo. “É muito pouco provável que melhore porque a deterioração da base do governo já está num tal nível que acho de difícil reversão. A tendência é só perder, não tem o que ganhar. Acho que não tem mais ninguém que possa chegar e mudar essa relação”, disse o presidente da Casa, se referindo ao aprofundamento da crise política e econômica e o escândalo de corrupção que envolve, a cada dia, novos nomes do governo.
Cunha afirmou que a citação do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, na delação do senador Delcídio Amaral (PT-MS) é um fato grave em si pela gravação da conversa do ministro em conversa com um assessor de Delcídio e não só pelo conteúdo do depoimento. Na delação homologada hoje, o senador diz que o ex-chefe da Casa Civil prometeu dinheiro e ajuda para que Delcídio deixasse a prisão e escapasse do processo de cassação do mandato no Senado. “Efetivamente é um fato mais grave”, analisou.
O peemedebista evitou comentar a parte da delação em que Delcídio o chama de “menino de recados” do banqueiro André Esteves. Para o deputado, não há uma acusação explícita contra ele e só um “adjetivo”. Cunha afirmou não ter vergonha de ter relação com banqueiros porque isso faz parte de sua função como deputado. “Não sou comentarista de delação”, declarou.
À espera do julgamento dos embargos de declaração do rito do impeachment pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que acontecerá nesta quarta, 16, Cunha disse que mesmo se houver acordo, não mudará a disposição das vagas dos partidos na comissão processante. Ele reforçou que a mudança no tamanho das bancadas em virtude da janela partidária não afetará a distribuição destas vagas porque será respeitada a regra dos blocos formados no início da legislatura, em fevereiro do ano passado. Ele lembrou que a comissão processante foi colocada em votação, num primeiro momento, em dezembro passado. “Eu não sinto amparo legal de mudar regra depois de o jogo começado. O jogo começou, vale a regra que existia naquele momento”, respondeu.
Cunha informou que nesta terça, 15, não pretende colocar em votação o projeto de decreto legislativo que muda o indexador da dívida dos Estados e municípios. O deputado defendeu que se aguarde a negociação entre o governo federal e os Estados.