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AquaRio: um aquário para acabar com o medo de tubarão

Aconteceu quando Gabriela, a filha caçula do biólogo marinho Marcelo Szpilman, tinha 5 anos e visitava um aquário em Porto de Galinhas, Pernambuco. Ela olhou para o pai, assombrada: “Encostei num tubarão”, disse a menina, depois de visitar o tanque de toque. Começava ali a gestação de um projeto ambicioso, que levaria mais de uma década para se concretizar – a construção do maior aquário da América do Sul.

O AquaRio abrirá em 9 de novembro, com números superlativos. São 26 mil m² de área construída, 4,5 milhões de litros de água salgada, 8 mil animais de 350 espécies, que se alimentam de 300 quilos por mês de frutos do mar. Consumiu R$ 130 milhões de investimento privado. Os tubarões são as estrelas.

“Você não preserva o que não conhece. Quem vai preservar o tubarão se achar que ele é uma fera assassina? Vão querer dizimar todos para tornar oceanos locais seguros”, afirmou Szpilman, diretor-presidente do AquaRio. “É preciso entender o papel dos tubarões para o equilíbrio da vida dos oceanos e, assim, preservá-los.” Szpilman foi o criador do Projeto Tubarões do Brasil, em 2005, e cofundador do Instituto Ecológico Aqualung, em 1994.

Instalado em um dos extremos da Orla Conde, área revitalizada do porto do Rio, o AquaRio ocupa parte das instalações de antigo frigorífico, erguido em 1914. A visita começará numa estação de plânctons, em que uma lupa eletrônica permitirá visualizar os seres microscópicos que flutuam nos oceanos e são a base da cadeia alimentar na vida marinha.

Seguem-se tanques temáticos. Um para animais que se enterram, como mirorós (espécie de moreia), estrelas do mar e linguados. Outro é destinado aos peixes “perigosos”, como moreias, raias e peixe-leão, espécie invasora que se espalhou pelo Caribe e ameaça a biodiversidade da região. Um terceiro é o dos invertebrados, como lagostas e caranguejos gigantes.

Há ainda o recinto que promete ser o preferido da criançada: reproduz a região em que os oceanos Índico e Pacífico se encontram, com seus corais coloridos. É ali que moram os peixes que inspiraram os personagens de Procurando Nemo. As crianças reconhecerão, além do peixinho-palhaço que deu nome ao filme, Dory (espécie cirurgião-paleta) e Gill (Moorish Idol).

Mais à frente, fica um tanque cilíndrico de cardume de xereletes, peixes que nunca param de nadar. É possível entrar por um pequeno túnel, enfiar a cabeça num domo em acrílico e ter a sensação de que os peixes estão a poucos centímetros do rosto.

A grande vedete do aquário será o tanque oceanográfico, com 3,5 milhões de litros dágua e 7 metros de pé-direito. É atravessado por um túnel que, em alguns pontos, tem 5 metros de coluna dágua sobre ele. Nele nadam bonitos, raias, tubarões.

Um tubarão galha-branca-de-recife, com 1,20 metro de comprimento, chegou na semana passada e já está entre os moradores do recinto. Na última quarta-feira, mostrou-se tímido. Escondeu-se sob o túnel e não apareceu para fotos.

Nesse tanque acontecerão os mergulhos com tubarões e raias (com cilindro de oxigênio, para mergulhadores ou com snorkel para os iniciantes). “Mas é para quem não tem medinho bobo de tubarão”, desafia Szpilman. “A ideia do aquário é desmistificar o tubarão, mostrar que é um animal como outro qualquer”, diz. Ao fim do passeio, o visitante poderá fazer como Gabriela – haverá três tanques de toque para a interação do público com os peixes.

Reprodução
O AquaRio terá projetos de pesquisa para a reprodução de peixes em cativeiro. “Seremos o primeiro aquário do mundo a ter um sistema de captação de desova espontânea em cativeiro”, afirmou Szpilman. Foi firmado um convênio com a Faculdade de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para as pesquisas. Szpilman tem na ponta da língua as respostas para os críticos da criação de animais em cativeiro. “É uma idiotice. O problema não é existir zoológico ou aquário. Mas como é feito.”

O biólogo diz que 90% das espécies que poderão ser vistas no aquário são brasileiras, usadas para o consumo, como sardinhas, bonitos, xereletes e tainhas. “O ser humano já não caça nem coleta mais. Ele cria gado, porco, aves. Só no mar é que se continua caçando e coletando. A população de 80% dos peixes que comemos está em declínio acentuado. É preciso criar protocolos para a reprodução de peixes em cativeiro, como já existem para a garoupa e o badejo.”

O visitante não verá ali mamíferos marinhos. “É absurdo colocar cetáceo em cativeiro. São animais com nível de inteligência maior, extremamente sociáveis.” A exceção é um esqueleto gigante de uma baleia jubarte, que encalhou, depois de morta, na Praia da Macumba, zona oeste do Rio. A baleia ficou enterrada por um ano e foi reconstituída. Está em exposição no lobby do aquário.

O AquaRio terá atividades extras, cobradas por fora. Será possível mergulhar com tubarões, dormir no túnel do tanque oceanográfico e fazer um peixe virtual, que vai interagir com o visitante durante o tempo em que estiver no aquário. Os preços ainda não foram estabelecidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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