Conselheiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para questões jurídicas e políticas, advogado e consultor das maiores empreiteiras do País, interlocutor frequente de alguns dos principais nomes do PSDB e PMDB, amigo de ministros do Supremo Tribunal Federal. Desde o agravamento da atual crise, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim tem desempenhado papéis tão amplos e múltiplos em frentes distintas, como a Operação Lava Jato, a CPI do BNDES e a ameaça de impeachment à presidente Dilma Rousseff, que alguns atores políticos já o comparam ao ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
Morto em novembro do ano passado, MTB, como Thomaz Bastos era conhecido, foi um dos artífices da famosa tese do caixa dois com a qual Lula se defendeu no caso do mensalão. No governo federal, ele ajudou a nomear ministros do Supremo que julgaram a ação em 2012 e comandou a Polícia Federal durante as investigações. Fora do ministério, assumiu a defesa de alguns réus e ajudou a orientar a estratégia dos demais. Porém morreu no decorrer da Operação Lava Jato.
Mantidas as devidas proporções, Jobim hoje exerce papel semelhante. Segundo fontes do Instituto Lula, ele atualmente é um dos mais próximos conselheiros do ex-presidente, com quem costuma falar pelo menos uma vez por semana, e tem dado opiniões relevantes na estratégia de defesa contra as ameaças de impeachment.
Jobim foi o relator da Comissão Especial da Câmara que levou ao afastamento do então presidente Fernando Collor, em 1992. Segundo fontes, partiu dele a ideia de contestar no STF o rito para o impeachment definido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Impeachment
A ajuda a Dilma Rousseff, no entanto, ocorre mais dever de ofício e proximidade com Lula. A relação de Jobim com Dilma é ruim desde que ambos integravam o ministério de Lula. As diferenças entre os dois ficaram claras no dia 20 de outubro, quando o ex-ministro deu uma palestra a magistrados da Associação dos Juízes Federais de São Paulo (Ajufesp). “O melhor cenário para Lula é o impeachment”, disse ele, segundo relatos de três magistrados.
Para Jobim, com a queda de Dilma, Lula poderia chegar à eleição de 2018 como candidato de “oposição”. No caso de permanência da presidente, o petista teria que arcar com o desgaste do governo,
Pesa também a favor de Jobim o fato de ter bom trânsito tanto com Lula quanto com o PSDB e o PMDB, partido pelo qual foi eleito duas vezes deputado federal. Ele foi ministro da Justiça entre 1995 e 1997, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, que o indicou a uma vaga no STF; é próximo do senador José Serra (PSDB) e tem trânsito livre junto ao vice-presidente
Michel Temer (PMDB). “Ele reúne todos os predicados para fazer a ponte entre todos os partidos”, disse o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).
Meio de campo
Além disso, Jobim circula com desenvoltura no STF, que integrou entre 1997 e 2006, e demais tribunais superiores. Isso o credenciou ao papel de articulador entre os universos político e jurídico, antes desempenhado por Thomaz Bastos. “Estamos advogando juntos na CPI do BNDES. Ele é uma pessoa que tem trânsito fácil nos tribunais e meios políticos, além de ser um grande advogado”, afirmou o advogado Pierpaolo Bottini.
Assim como Thomaz Bastos, Jobim também atua no campo empresarial. Desde o início da Lava Jato ele foi contratado pelas empreiteiras OAS, Odebrecht e Camargo Corrêa para elaborar pareceres não necessariamente vinculados à operação. Esta característica foi reforçada depois que ele se mudou para São Paulo, no ano passado.
Para completar o perfil versátil de Jobim, ele mantém fortes laços com alguns de seus ex-companheiros de STF e alguns novos ministros, entre eles Teori Zavascki, gaúcho como o ex-ministro, relator da Lava Jato no Supremo.
Nos meios jurídicos e políticos é atribuído a influência de Jobim o habeas corpus concedido a Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, em dezembro do ano passado e que mais tarde acabaria derrubado.
Diferenças
Apesar das semelhanças, muitos advogados dizem que Jobim não tem como ocupar o vácuo deixado pela morte de Thomaz Bastos. O principal motivo é a falta de ascendência sobre a comunidade jurídica de São Paulo.
Ao contrário do ex-ministro da Justiça de Lula, que foi forjado nos tribunais e formou ao menos duas gerações de grandes advogados criminalistas, Jobim sempre evitou a linha de frente. Segundo advogados ouvidos pelo Estado, os criminalistas paulistas preferem se aconselhar com colegas como o criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira.
Outra crítica frequente é quanto ao temperamento de Jobim, considerado autoritário por alguns, em contraponto com o estilo suave de Thomaz Bastos. “É difícil alguém ocupar o lugar que o Márcio ocupava. Era um advogado completo, com larga experiência”, disse Bottini.
Jobim foi procurado por meio de seu escritório mas não respondeu aos telefonemas e e-mail da reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.