Economia

Inema vai iniciar inspeção de água em região contaminada por urânio na Bahia

O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgão do governo da Bahia responsável pela gestão de águas no Estado, vai iniciar a coleta e análise de água em poços próximos à região onde foi encontrada uma cisterna com alto teor de urânio.

A inspeção deverá se concentrar inicialmente em cerca de 20 poços cadastrados pela Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb). Nos próximos dias, disse o coordenador de monitoramento dos recursos ambientais e hídricos do Inema, Eduardo Farias Topázio, uma equipe deve ir a campo para coletar a água desses poços.

O trabalho será feito pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Ceped), órgão vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado.

De acordo com Eduardo Farias Topázio, a falta de informações sobre a localização de poços no interior dos municípios de Caetité e Lagoa Real, no sudoeste da Bahia, tem dificultado a coleta das amostras de água. Há um mês o Inema aguarda as coordenadas geográficas dos poços, dados que tinham de ser encaminhados pelas prefeituras de Caetité e Lagoa Real.

“Pedimos essas informações e as secretarias de saúde e vigilância sanitária dos dois municípios ficaram de nos enviar os dados, mas até agora não recebemos nada que permitisse o começo do trabalho”, disse Topázio. “A única coisa que chegou foi uma relação de nomes de donos de poços, sem detalhes do endereço. Não temos como mandar uma equipe a campo tendo apenas essas informações.”

O trabalho de monitoramento, portanto, disse o coordenador do Inema, vai começar pelos poços já cadastrados e georrefenciados pela Cerb, os quais estão numa área próxima à mina de urânio da estatal federal Indústrias Nucleares do Brasil (INB).

“Nos próximos dias, vamos começar o trabalho de campo nesses poços que já têm coordenadas geográficas. Depois vamos expandir essa base. Não estamos parados, temos essa dificuldade de cadastramento dos poços, mas vamos avançar. Cansei de esperar, vamos iniciar a operação”, disse.

Denúncia

No dia 22 de agosto, denúncia publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo revelou que a INB havia identificado a contaminação da água em um sítio no interior de Lagoa Real. O poço continha alto teor de urânio em um sítio privado. Em duas inspeções, a INB encontrou urânio em quantidade inaceitável para consumo, mas não comunicou o fato ao governo da Bahia, tampouco ao Ibama, Ministério da Saúde ou Ministério do Meio Ambiente.

A primeira inspeção foi realizada pela empresa em outubro de 2014, quando identificou uma quantidade do metal tóxico mais de quatro vezes acima do limite permitido para consumo humano. Uma segunda checagem feita pela INB em março deste ano voltou a encontrar índice de urânio mais de três vezes acima do permitido pelos órgãos de saúde. No fim de maio, a INB entregou os resultados das inspeções à Prefeitura de Lagoa Real. Só então a gestão municipal foi até o proprietário do poço contaminado para comunicá-lo de que não deveria mais consumir aquela água. Nada foi informado aos órgãos estaduais e federais, conforme exigido por lei.

Neste ano, a INB divulgou informações garantindo que, após analisar amostras de águas subterrâneas de Caetité e região “coletadas durante todo o ano de 2014”, foi possível comprovar que “o nível de urânio está abaixo do limite estabelecido como seguro pelo Ministério da Saúde e pelo Conama para o consumo humano”.

Após a denúncia, a INB alegou que não comunicou os resultados aos órgãos porque o poço estaria fora da área de sua responsabilidade, a cerca de 15 km de sua mina. Segundo a empresa, os dois testes foram realizados como um tipo de favor prestado ao dono do sítio. A estatal afirmou ainda que não tem responsabilidade pela contaminação e que a presença do urânio na água seria natural e, por isso, nem pode ser classificada como contaminação.

O governo da Bahia decidiu enviar uma equipe de técnicos para checar a qualidade da água e, após novo testou, confirmou a contaminação. Os resultados apontaram presença de 60 microgramas de urânio por litro de água, quando o limite para consumo humano estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é de, no máximo, 15 microgramas por litro.

O governo prometeu instalar na região um programa de monitoramento permanente para garantir a segurança da população sobre em relação à qualidade da água que está consumindo.

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