Economia

Em SP, esqueleto no City Lapa será demolido

Demorou, mas os moradores do City Lapa, na zona oeste de São Paulo, conseguiram fazer valer uma decisão judicial de 1996 que prevê a demolição de um prédio erguido irregularmente no bairro. O esqueleto abandonado na Rua Princesa Leopoldina, com 25 metros de altura, divididos em nove andares, será inteiramente derrubado para futuramente dar lugar a uma casa.

O trabalho de demolição do Condomínio Montecarlo confirma a primeira decisão judicial, dada há 19 anos. Naquele ano, representantes da Associação de Amigos e Moradores pela Preservação do Alto da Lapa e Bela Aliança (Assampalba) e do Movimento Defenda São Paulo apresentaram uma ação civil pública contra a construtora CCK pela não realização da obra.

O loteamento do bairro, feito pela Companhia City – a mesma que modelou os Jardins e o Pacaembu -, veta imóveis com mais de dois andares. As regras também preveem restrições ambientais, a fim de preservar o padrão paisagístico e ambiental do City da Lapa, considerado bairro-jardim, de herança inglesa.

O prédio já tinha três andares quando o juiz de primeira instância impediu a continuidade da obra, condenando a empresa e a Prefeitura, que havia dado aval à construção em 1994. Mesmo ilegal, os trabalhos prosseguiram diante de diversos recursos apresentados pela construtora. O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), que encerrou o processo em agosto de 2013. Foi quando se deu o trânsito em julgado da decisão que ordenou a demolição.

De lá para cá, após alegação de falta de recursos pela empresa, o imóvel foi levado a leilão, sendo necessários mais dois anos para o início dos trabalhos, assumidos pelo comprador, que também terá de recompor o terreno como planejado no seu loteamento, concebido em 1920. O valor histórico, cultural e ambiental do City Lapa foi assegurado em 2009 pelo órgão municipal do patrimônio, o Conpresp, que decidiu pelo tombamento do bairro.

“O Brasil inteiro ganhou com esta decisão, que já se torna jurisprudência a ser seguida por todos os loteamentos onde haja restrições contratuais em qualquer cidade do País”, afirmou a advogada responsável pela ação, Berenice Martin, ex-presidente da Assampalba. A reportagem não conseguiu contato com representantes da CCK.

Cidadania

A urbanista Lucila Lacreta, do Movimento Defenda São Paulo, diz que o caso é fruto de duas décadas de luta cidadã. “Só desfechos como este podem coibir a edificação irregular. Precisamos garantir que o zoneamento seja seguido e que o não cumprimento cause demolições de fato. A construção irregular prejudica a vida da cidade.”

Para Lucila, o destino dado ao esqueleto da Lapa pode contribuir para os debates que ocorrem neste fim de ano na Câmara Municipal em função do projeto de lei que revisa o zoneamento. Isso porque há outros bairros na cidade fruto de loteamento regulares, com restrições de construção reconhecidas por lei, como o Jardins. A associação dos moradores cogita ir à Justiça caso o novo zoneamento libere usos incompatíveis com as regras do bairro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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