A presidente Dilma Rousseff fez nesta quinta-feira, 19, um discurso em defesa da política de cotas para negros e disse que é preciso privilegiar aqueles que permaneceram por séculos apartados. “A lei de cotas faz parte de um processo que não pode parar”, afirmou, durante cerimônia comemorativa pelo Dia Nacional da Consciência Negra, que é celebrado nesta Sexta-feira (20) no Palácio do Planalto.
“Sem ações demoraríamos ainda mais para chegar ao estágio atual e começar a reduzir fosso secular entre brancos e negros no Brasil”, ponderou.
Na cerimônia, a presidente entregou títulos de posse e cessão de uso de terras para comunidades quilombolas. Segundo o governo, as medidas beneficiam 2.457 famílias. Dilma afirmou que no Brasil a pobreza sempre teve uma cor predominante: “a cor negra”. “Por isso os impactos positivos do Bolsa Família, do Minha Casa, Minha Vida são maiores nas populações negras.”
Segundo ela, é preciso enfrentar a exclusão racial “que historicamente marcou nosso país” para reparar injustiças cometidas contra a comunidade negra e tentar pagar a “imensa dívida social” que o Brasil tem com os negros.
“Sabemos que por conta de anos a fio, de centenas de anos, que nós tivemos de escravidão em nosso país, temos que olhar e ter a consciência que é necessário privilegiar aqueles que permaneceram por séculos apartados e até desconsiderados na divisão da riqueza”.
No final do seu discurso, a presidente ressaltou que a tolerância é o melhor caminho para evitar casos de preconceitos e, sem citar os ataques terroristas na França, condenou atos de xenofobia e o racismo.
Conflito
A representante da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas, Sandra Maria Andrade, que participou da cerimônia, destacou a marcha das mulheres negras realizada ontem em Brasília e lembrou em seu discurso do episódio de conflito entre as manifestantes e o grupo que está acampado no gramado do Congresso e que pede a saída da presidente Dilma. “Os acampados que estão tirando férias ali acho que vão sair mais rápido”, provocou.
Nesta quarta, responsáveis pela marcha das mulheres negras afirmaram que iriam entrar na Justiça e denunciar os acampados pela agressão, que classificaram como “racismo”.
Sandra afirmou ainda que o movimento espera contar “com a sensibilidade” de Dilma no apoio às comunidades negras e ressaltou que o grupo defende o mandato da presidente. “Não haverá golpe, presidente. Isso nós podemos afirmar.”