Os riscos de calote da Grécia junto aos credores e de uma eventual saída daquele país da zona do euro ainda têm impactos pequenos e limitados no Brasil, na avaliação de economista e analistas ouvidos pelo Broadcast b>, serviço em tempo real da Agência Estado. No entanto, a volatilidade nos mercados internacionais e a aversão ao risco podem provocar turbulências no Brasil. Além disso, ajustes pontuais devem ocorrer na esteira da crise grega, entre eles o crescimento do risco-país de emergentes. Os analistas não descartam ainda um possível adiamento no início da alta de juros nos Estados Unidos.
Segundo o analista de mercados e de economia internacional da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, “a situação brasileira do ponto de vista econômico é tão delicada que a crise grega seria uma questão a mais para ajudar a complicá-la”. Isso ocorre, segundo ele, porque o efeito maior da decisão dos gregos de romperem as negociações com credores, até um referendo previsto para o domingo, 5, gera pressão pontual em ativos internacionais como câmbio e juros, além dos impactos, por exemplo, em captações externas.
Mas, de acordo com Campos Neto, a contaminação de uma eventual saída da Grécia da zona do euro para países emergentes como o Brasil é bem menor do que há três anos, justamente porque o risco de contágio na União Europeia também foi reduzido. “Irlanda, Portugal e Espanha, por exemplo, fizeram lição de casa e a turbulência é muito menor, como uma consequência no Brasil menos intensa”, disse. “Mas a saída de um país da zona do euro, caso ocorra, por ser inédita, pode gerar consequências imprevisíveis e é preciso cuidado”.
Para Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra, apesar de a Grécia não afetar o Brasil diretamente, as incertezas sobre o futuro do país europeu geram turbulências nos mercados. “Medidas como o controle de capital, fechar bancos e um referendo no qual ninguém sabe direito o que perguntarão adiam o desfecho das questões”, disse. “Mas os desfechos podem até não ser negativos, caso a população vote pela solução pedida pela União Europeia e a Grécia permaneça na zona do Euro”, completou.
Já Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO Associados, considera que o resultado imediato da crise grega é a alta do risco-país para todas as nações, principalmente para as emergentes, como o Brasil. “A essa altura do campeonato, com tanta incerteza, é difícil dizer o quanto vai subir (o risco-país), mas vai aumentar o risco de financiamento das economias emergentes. Talvez suba menos para as que possuem maior capacidade de resistência e têm uma avaliação melhor”, explicou.
Silveira, no entanto, concorda com outros economistas e avalia que, apesar de o desdobramento da crise ainda ser uma incógnita, “o risco da Grécia já estava precificado” e a possibilidade de contágio mundial é bem menor que no passado. “Não há o risco de contágio do passado recente porque naquela ocasião a Europa estava mergulhada profundamente na crise, com desemprego alto nas principais economias e até Alemanha estava sem dinamismo econômico”, afirmou. “Houve uma evolução mais compacta na economia e há um programa de incentivo e estímulo financeiro muito forte no sistema financeiro europeu, com grande liquidez e com maior resistência das economias mais frágeis locais”, completou.
Estados Unidos
Campos Neto, da Tendências, e Silveira, da GO Associados, avaliam, no entanto, que um dos impactos pontuais da crise grega possa ser um novo adiamento da alta na taxa de juros nos Estados Unidos pelo FED, banco central daquele país. “Tudo depende do tamanho do desdobramento (da crise da Grécia), mas o Fed pode não querer ajudar a ampliar a volatilidade e aguardar um pouco mais para subir os juros. Mas até isso é incerto, porque pode haver acordo (entre Grécia, credores e a União Europeia)”, disse Campos Neto.
Para Silveira, a alta de zero para 1% nos juros norte-americanos parecia certa para 2015, mas o crescimento ainda modesto da economia dos Estados Unidos fez com que as expectativas de aumento caíssem gradativamente para um aumento a 0,25% este ano e outro, igual, em 2016. “Agora, com a crise grega, a alta liquidez na Europa e a economia norte-americana ainda patinando, a possibilidade de não haver alta em 2015 é cada vez maior”, concluiu Silveira.