A queda na confiança continua se espalhando pelos setores do comércio. Se antes o recuo era mais intenso entre os segmentos dependentes de crédito (veículos, móveis e eletrodomésticos), agora o momento desfavorável atinge também aqueles mais sensíveis à evolução da renda das famílias. As reclamações de demanda insuficiente atingiram um recorde, enquanto a previsão de demissões continua superando a de novas contratações, segundo os dados da Fundação Getulio Vargas (FGV).
“O resultado é compatível com a intensificação da queda da atividade. As empresas vêm reclamando do custo financeiro e do custo com a mão de obra, o que indica que elas estão com as margens achatadas”, explicou Aloisio Campelo, superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV. “Não parece haver perspectiva de recuperação. É bem possível que haja uma queda nas vendas este ano”, acrescentou.
Em junho, a confiança do comércio recuou 1,4% na comparação com maio. As expectativas, que vinham subindo há dois meses, voltaram a ceder. “O esboço de melhora, que não parecia condizente com outros fatores apontados pelas empresas, não se sustentou”, disse Campelo. “As famílias enfrentam dificuldades para manter o padrão de consumo.”
As reclamações sobre demanda insuficiente atingiu 44,4% dos empresários, o maior valor da série, iniciada em março de 2010. O indicador de emprego previsto, por sua vez, cedeu 5,7% na passagem do mês, indicando fechamento de postos no futuro.
Um quesito especial realizado nesta edição mostra ainda que 82,2% das empresas enumeram o desempenho geral da economia como um fator negativo para o comércio. O ambiente político é um peso para 49,8%, com destaque para o setor de materiais de construção. “O imbróglio político e da Operação Lava Jato parece afetar mais o setor da construção”, disse o superintendente.