Vice-governador de São Paulo, presidente do PSB no Estado e integrante da direção executiva nacional do partido, Márcio França é, hoje, uma espécie de porta-voz político do governador Geraldo Alckmin.
Quando os principais tucanos paulistas se uniram para lançar a candidatura do vereador Andrea Matarazzo à Prefeitura de São Paulo à revelia do Palácio dos Bandeirantes, França transferiu seu título de São Vicente para a capital, a pedido do governador. A ideia era deixar claro que o processo da escolha do nome teria obrigatoriamente que começar e terminar em São Paulo. No plano nacional, França trabalha para viabilizar a candidatura de Alckmin ao Palácio do Planalto, dentro ou fora do PSDB.
O governador está com dificuldades de encontrar um candidato a prefeito na capital. É possível que o sr. se candidate?
Quando a gente testa, nas pesquisas, um nome do PSDB, nenhum se sai muito bem. O melhor, do ponto de vista numérico, é o Bruno Covas – o sobrenome pesa muito. Mas quando você põe qualquer nome apoiado pelo Geraldo Alckmin, ou candidato de Geraldo Alckmin, a pessoa sai de 1% ou 2% para 21%, 22%. A gente acha que esse eleitor tem o perfil que gosta do governador, respeita o jeito dele. Menos do PSDB e mais dele. E fica esperando quem terá esse perfil.
O sr. transferiu o título eleitoral para a capital. Será candidato?
O Carlos Siqueira (presidente do PSB) me encontrou e falou: Marcio, você ainda está com o título em São Vicente? Eu disse que sim, porque minha vida estava lá. Mas disse que eu poderia trazer o título para São Paulo. E comentei com o governador, e ele disse que achava uma boa ideia. Entendi isso como incentivo para que eu o fizesse. E eu fiz.
Que tipo de incentivo?
Uma alternativa.
Alternativa caso o PSDB tente impor uma candidatura que não seja a preferida do governador?
Não sei o que passa na cabeça de Alckmin. Eu sei o que passa na minha. Se o PSDB indicar um nome que nós do bloco (DEM, PSB, PV e PPS) não percebamos que seja totalmente afinada ao Alckmin, nós não iremos com essa pessoa. Não temos compromisso com o PSDB.
Andrea Matarazzo recebeu apoio dos senadores Aloysio Nunes e José Serra e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Isso não faz dele o nome do PSDB?
Ele se tornou o nome do Aloysio, do Serra, do FHC. Quem tem voto em São Paulo no PSDB é Geraldo Alckmin. Os outros têm prestígio, têm respeito, são preparadíssimos. Têm uma trajetória. Mas voto é Geraldo Alckmin. É o binômio da seriedade com a simplicidade. Ele é uma figura como (a deputada do PSB, Luiza) Erundina. Aliás, ele esteve com Erundina no final de semana passado. Da Erundina você pode ter queixas, ter críticas. Mas não combina com ela nada ligado à desonestidade. Não tem essa possibilidade. Ela empresta uma marca. Se ela disser “eu apoio Marcio França se ele for candidato a prefeito”, ela pode não transferir o voto, mas ela empresta credibilidade.
Quem são os favoritos na disputa pela Prefeitura?
No quadro atual, tem (o deputado do PRB) Celso Russomanno como forte favorito, pela taxa alta de recall que a mídia dá a ele todo dia, e no segundo patamar todo mundo está abaixo de 20%. Portanto, qualquer nome apoiado pelo Alckmin tende a ter força para ir para o segundo turno. A escolha do governador é decisiva. Se tudo depende dele, seria mais do que lógico que a principal opinião fosse a dele.
E não foi até agora?
Não foi. Porque o PSDB é um partido com formato institucional. Teve uma escolha de um diretório municipal, teve uma briga entre eles. Daí tem vário grupos diferentes. Se for um nome do PSDB que tiver o apoio decidido do governador, e que a gente acabe indo junto, compondo a chapa, provavelmente o tempo de TV nosso com o PSDB seria equivalente a um dos maiores, só igual ao do (prefeito Fernando) Haddad.
O prefeito tem chances?
Acho que o Haddad é muito competitivo. Entre os jovens, Haddad chega a ter 26%, 28%, é um bom número. Onde ele está perdendo? Nas ações da periferia. São ações que ainda podem ser feitas. Se ele estiver com o PMDB junto, eu diria que ele é um forte concorrente. Quem tiver tempo de televisão vai ser um tiro no baço, um míssil. O Russomanno tem 1 minuto. Ele tem um comercial de dia, um de tarde. No outro dia, um de tarde, um de noite. No outro dia, um de manhã, um de tarde. É duro para o cara competir. Ele precisa ter tempo. É mais fácil para quem já é famoso, mas a TV é um grande componente, numa campanha que não pode ter banner, cavalete, boneco.
Alckmin pode ser candidato a presidente pelo PSB?
Parte do PSDB não valoriza o tamanho e a importância que tem o Alckmin. Basta olhar o quanto ele aparece na TV nas propagandas do partido. Se o PSDB não perceber o quanto ele é valioso, com o tempo isso pode gerar um conflito. O PPS, o PSB e o DEM estão muito mais alinhados com o Alckmin do que com o Aécio, por exemplo. Nosso alinhamento é com Alckmin. Gostaríamos que ele fosse candidato pelo PSDB, pois aí somaríamos o tempo deles com o nosso. Mas, se não puder ser, ninguém vai dizer não para ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.