Mesmo nas escolas que não estão ocupadas, alunos têm estimulado o boicote ao Saresp como outra via de protesto contra a reforma da rede estadual. Em manual compartilhado nas redes sociais, os alunos incentivam e dão dicas sobre ocupações, piquetes e até o descarte das provas para impedir a realização da avaliação anual, prevista para esta terça-feira, 24, e quarta-feira, 25.
Segundo texto divulgado por grupos de estudantes na internet, “o Saresp é mais uma das ferramentas do governo Alckmin para justificar os fechamentos e a reorganização das escolas”. O guia também destaca que estudantes não podem ser punidos ou reprovados se deixarem de fazer o exame.
Alunos da Escola Silvio Xavier, no Piqueri, zona norte da capital, que fechará as portas no ano que vem, têm se organizado para percorrer outros colégios da cidade. O objetivo é distribuir panfletos e orientar outros estudantes a boicotar o Saresp. A Silvio Xavier está ocupada há uma semana.
Já a Escola Ciridião Buarque, na Lapa, zona oeste, foi ocupada na segunda-feira, 23. A intenção dos manifestantes é continuar no local pelo menos até amanhã, com o objetivo de impedir o Saresp.
O colégio não está na lista das unidades que vão fechar ou passarão por reorganização em 2016. “A gente vai esperar acontecer com a gente para pensar nos outros?”, indaga um aluno do 3º ano do ensino médio, que preferiu não se identificar.
A Ciridião Buarque, segundo a Secretaria da Educação do Estado, foi ocupada por alunos e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Em visita à ocupação, a reportagem não encontrou bandeiras ou representantes desse movimento social, apenas estudantes. O grupo tem o suporte de um advogado ativista – orientação jurídica também sugerida online.
Alcance
A Apeoesp, principal sindicato dos professores da rede estadual, disse estimar que até 30% das escolas do Estado boicotem a prova. “Todo o ambiente escolar está muito conturbado, não só nas escolas ocupadas ou nas que vão fechar. Por isso, o alcance do boicote será grande”, disse a presidente, Maria Izabel Noronha.
Especialista em avaliação educacional, Maria Márcia Malavasi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acredita que a insatisfação causada pela reforma deve trazer impactos nas notas e criticou o Saresp. “Os resultados só têm sido usados para penalizar ou bonificar as escolas e professores de forma equivocada”, diz.
Ghisleine Trigo, coordenadora de Gestão da Educação Básica da secretaria estadual, disse que os resultados servem para as escolas como diagnóstico dos conhecimentos consolidados pelos alunos e para nortear as ações de cada unidade. “O bônus aos professores é derivação secundária. O principal objetivo é ser um recurso pedagógico para orientar as escolas.”.
Sobre o cancelamento das provas em escolas ocupadas, Ghisleine disse lamentar que o calendário não possa ser cumprido, mas foi a melhor medida encontrada para evitar constrangimentos aos alunos. “Em algumas escolas, eles e a equipe educacional estão impedidos de entrar.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.