A Petrobras estuda reduzir ainda mais o número de encomendas à Sete Brasil, empresa responsável pela construção de 19 sondas destinadas ao pré-sal. Com a necessidade de preservar o caixa, a estatal dá sinais de que poderá buscar no mercado internacional as unidades para negociar preços mais atrativos. A diretoria da estatal também sinalizou que há “problema estrutural” nos contratos entre a Sete e os estaleiros, que poderiam atrasar as entregas.
Em reestruturação desde maio, a Sete Brasil apresentou aos credores proposta para reduzir de 28 para 19 as sondas em seu portfólio. A redefinição depende de aprovação da sua principal contratante, a Petrobras, que pode cortar ainda mais as encomendas. O tema voltará a ser debatido no conselho, na reunião do dia 6 de agosto. As negociações, entretanto, têm esbarrado na indisposição da estatal com propostas que representam mais custos ou riscos às suas metas de produção.
Com a queda nas cotações internacionais do petróleo, no último ano, e o consequente corte de investimento das petroleiras, haveria mais sondas no mercado internacional disponíveis para negociação de preços de afretamento. A estatal avalia se a opção seria mais econômica do que aguardar a Sete, com preços acima da média internacional já definidos em contrato.
Outro ponto que atrapalha as negociações é a desconfiança da estatal em relação ao prazo de entrega e ao modelo de operação das unidades. Considerada uma premissa fundamental para a rentabilidade da Sete Brasil no médio prazo, a operação própria das unidades é rejeitada pela Petrobras. O tema ainda não foi levado ao conselho de administração, mas está sendo discutido internamente entre as empresas.
No plano original, as sondas seriam operadas por empresas especializadas, estrangeiras e nacionais, como a Odebrecht Óleo e Gás e Queiroz Galvão Óleo e Gás. Para garantir sua rentabilidade, entretanto, a Sete Brasil apresentou proposta de eliminar as operadoras do negócio, de modo a assumir a prestação de serviços e suas receitas. A proposta previa um período de operação compartilhada, para que a Sete Brasil desenvolvesse o conhecimento técnico das operações.
A avaliação da Petrobras, entretanto, é que a empresa não tem experiência para a função, uma vez que originalmente a Sete Brasil seria apenas um veículo de gestão de ativos e contratos. A estatal também sinalizou que há “problema estrutural” no contrato entre a Sete e os estaleiros, atingidos por uma crise de financiamento. Um dos estaleiros, o Atlântico Sul, cancelou o contrato em fevereiro. Um atraso na entrega de encomendas comprometeria a curva de produção da estatal, definida em 2,8 milhões de barris diários até 2020.
O plano de reestruturação da Sete Brasil previa diferentes cenários para a “nova” empresa, com a possibilidade de reduzir o número de sondas a até 13 unidades. Entretanto, o cenário dado como “provável” aos investidores e clientes da empresa, até o momento, era de 19 unidades a serem construídas pelos estaleiros nacionais em parceria com empresas estrangeiras. O prazo para definir a reestruturação, que venceu no início do mês, foi prorrogado por 45 dias.
Crise
A Sete Brasil enfrenta uma crise desde o último ano, após ter sido citada nas investigações da Operação Lava Jato. Dois ex-diretores foram citados como beneficiários das propinas rastreadas pela Polícia Federal. Com o envolvimento, a companhia teve dificuldades para liberação de financiamento por parte do BNDES, que apesar de ter uma linha de crédito de cerca de US$ 3 bilhões à empresa, ainda não liberou o pagamento. A Sete está inadimplente desde março, com dívidas estimadas em R$ 4 bilhões.
Procurada, a Petrobras informou que não comenta informações a respeito da Sete Brasil. A empresa, por sua vez, indicou que não confirmaria as informações. Em nota, disse que “segue atuando em busca da viabilização de seu plano de reestruturação”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.