O prejuízo líquido atribuído aos acionistas da Embraer, de R$ 196 milhões no primeiro trimestre de 2015, revertendo o lucro de R$ 258,7 milhões reportado em igual etapa do ano passado, se deve, em grande medida, a uma despesa de imposto de renda mais elevada, de R$ 350,9 milhões no período, comparada a uma receita de R$ 41,3 milhões um ano antes, informou a companhia. Conforme a fabricante de aeronaves, o aumento dessa despesa se deu principalmente em razão do efeito da variação cambial, que gerou uma maior gasto de imposto de renda e contribuição social sobre itens não monetários em relação ao reportado no ano anterior. Pelo critério de lucro líquido ajustado, que exclui o imposto de renda e a contribuição social diferidos, o resultado recuou 11%, para R$ 131,2 milhões, levando a uma margem líquida ajustada de 4,3% no trimestre.
A variação cambial também pesou no lucro operacional (Ebit), que ainda assim avançou 6,3% no primeiro trimestre e alcançou R$ 229 milhões, com margem Ebit de 7,5%, praticamente estável ante os 7,4% de um ano antes. A Embraer lembrou que a depreciação do real frente ao dólar no período foi de 21%, o que contribuiu significativamente para o aumento de 9,96% das despesas administrativas e comerciais no primeiro trimestre, ante a mesma etapa do ano passado, para R$ 123,7 milhões. Já as despesas comerciais cresceram 13,41%, para R$ 247,8 milhões, enquanto as despesas com pesquisa foram de R$ 21,2 milhões, estáveis ante os R$ 22 milhões do primeiro trimestre de 2014.
As contas a receber de clientes da Embraer cresceram 52,5% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 2,436 bilhões. Em relação ao encerramento de 2014, o salto foi de 30,3%, ou R$ 567 milhões e, conforme explicou a Embraer, reflete o alongamento dos ciclos de pagamento de alguns clientes, principalmente no segmento de Defesa e Segurança.
As dificuldades com os recebíveis, especialmente com o governo nesta divisão, têm trazido preocupação para os investidores da companhia e já impactaram os resultados de 2014. Em 2014, a companhia já foi afetada pelo alongamento no prazo efetivo de pagamento por parte de alguns clientes, especialmente os governamentais, o que levou a companhia a registrar um caixa líquido negativo de R$ 22,4,2 milhões. A Embraer não fornece, em seu relatório de resultados, mais detalhes sobre o possível represamento de pagamentos governamentais.
Além do aumento do contas a receber, a companhia também registrou aumentos em outros passivos, como nos estoques, que quase quadruplicaram, de R$ 2,260 bilhões, no final de 2014, para R$ 8,65 bilhões no final de março. Conforme a empresa, a variação cambial de cerca de 20% colaborou no aumento, mas este também se deve à sazonalidade de investimentos em estoque, em preparação para o aumento no nível de entregas esperadas para o restante do ano e pela formação de estoque em preparação para o aumento de produção dos novos modelos de jatos executivos.
Já a rubrica Fornecedores teve aumento de 25,23% ante o final de 2014, para R$ 3,26 bilhões, enquanto os adiantamentos de clientes aumentaram 16,74%, para R$ 2,569 bilhões.
Endividamento
O endividamento da Embraer aumentou 15% entre o quarto trimestre de 2014 e o primeiro trimestre deste ano, passando de R$ 6,662 bilhões para R$ 7,665 bilhões. Mais uma vez, a mudança no total da dívida reflete, principalmente, o impacto das mudanças no valor dos empréstimos em dólares, devido à variação cambial. Ao final de março, 31% da dívida total era denominada em reais.
Do total, as dívidas de longo prazo totalizaram R$ 6,8 bilhões, ou 89% do total, enquanto que as dívidas de curto prazo somavam R$ 835,9 milhões. O prazo médio de endividamento recuou de 5,9 anos no primeiro trimestre do ano passado e 5,4 ao final de 2014, para 5,3 anos, o que a empresa destacava estar em linha com seu ciclo de negócios.
O custo das dívidas em dólar ficou estável em 5,56% ao ano ante o final de 2014. Já o custo das dívidas em reais subiu de 6,01% a.a. para 6,12% a.a., por causa do aumento da taxa de juros brasileira. A relação do Ebitda nos últimos 12 meses em relação às despesas sobre os juros no trimestre ficou em 5,88.
Para mitigar o risco cambial, a companhia segue em sua estratégia de alocação do caixa em ativos denominados em reais ou dólares norte-americanos e manteve estável sua exposição de caixa a ativos denominados em dólares, em 41%.
Além disso, a Embraer informou que aderiu a alguns Hedges financeiros, para reduzir a exposição do seu fluxo de caixa de 2015, uma vez que 15% de suas receitas são em reais e aproximadamente 25% dos seus custos totais também são denominados na moeda nacional. Para 2015, quase 55% da exposição em Real está protegida, caso o dólar se desvalorize abaixo de R$ 2,30. Para taxas de câmbio acima deste nível, a empresa se beneficiará até um limite médio de R$ 3,39/dólar, explicou.