A Petrobras confirmou, na quarta-feira, 29, a eleição de Murilo Ferreira, atual presidente da mineradora Vale, como presidente de seu conselho de administração. A eleição foi realizada em assembleia de acionistas, no Rio. Apesar da hegemonia da União no conselho, acionistas minoritários conseguiram, com votação expressiva, se sobrepor aos fundos próximos ao governo na eleição para as vagas de membros independentes no colegiado.
De última hora, a União, como acionista majoritária, mudou as indicações para as vagas que cabem ao controlador. O objetivo era garantir a participação de especialistas ligados à área de governança, uma estratégia para retomar a credibilidade junto ao mercado, arranhada pela Operação Lava Jato e pelo atraso de cinco meses na publicação do balanço financeiro.
Na assembleia, os acionistas minoritários questionaram a indicação de Ferreira, alegando conflito de interesses, uma vez que a estatal tem contrato para fornecimento de combustíveis para a Vale. Apesar da reclamação, ele foi nomeado sem restrição. A Petrobrás informou que Ferreira fez uma declaração em que nega o conflito, alegando não ocupar cargo que interfira na parceria.
Além de Ferreira, foram reeleitos como conselheiros o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e Luiz Navarro. Eles já integravam o colegiado. Os novos integrantes são os economistas Luiz Nelson Guedes de Carvalho e Roberto Castelo Branco, e o engenheiro Segen Faria Stefan, professor da Coppe, programa de pós-graduação em engenharia da UFRJ.
Carvalho é doutor em controladoria pela USP e, atualmente, é professor e integra a diretoria da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). Já Castello Branco foi diretor do Banco Central e da Vale. Hoje, atua no Centro de Estudos e Desenvolvimento e Crescimento da Fundação Getulio Vargas.
O governo havia indicado que pretendia dar aspecto mais técnico ao conselho, após os questionamentos sobre as indicações políticas para os cargos e decisões polêmicas, como a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. À época, o órgão era comandado pela presidente Dilma Rousseff.
Minoritários
Na assembleia, foi confirmada a eleição do representante dos trabalhadores, Deyvid Bacelar. Para as vagas de acionistas minoritários foram eleitos Walter Mendes Filho e Guilherme Affonso Ferreira, indicados pela Associação de Investidores do Mercado de Capitais (Amec). No conselho fiscal, os indicados da Amec foram eleitos para duas vagas, Reginaldo Alexandre e Walter Albertoni. O colegiado também será composto por três indicados da União, Paulo Souza, Marisete Dadald e Cesar Acosta.
A expressiva votação, até por parte de investidores estrangeiros, indica que os acionistas buscaram representantes de perfil independente diante da desconfiança com nomes apontados por parceiros do governo. A votação para vagas de minoritários por fundos de pensão de estatais foi questionada. Como as instituições são controladas pela União, o governo poderia influenciar os votos e também a futura atuação no conselho.
Para a Petrobras, a avaliação cabe aos fundos. “Compete à entidade de previdência complementar avaliar se o seu voto sofre influência do acionista controlador. A entidade deverá estar apta a apresentar, se questionada, elementos que permitam comprovar que não houve influência”, afirmou Francisco Costa e Silva, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários, que mediou a assembleia. Após a manifestação, um representante da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, disse não haver impedimento ao voto. A Previ apoiou os nomes sugeridos pelo Bradesco Asset Management. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.