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Vamos aprendendo com as tragédias, diz arquiteto autor de projeto de restauro

Assim que soube do incêndio no Museu da Língua Portuguesa, o arquiteto Pedro Mendes da Rocha, de 53 anos, correu para o local da tragédia, na tarde de segunda-feira, 21. Queria acompanhar com os próprios olhos a ação dos bombeiros para tentar conter a destruição daquilo que levou quatro anos projetando e outros dois para conciliar a construção de um moderno espaço cultural com a preservação de um patrimônio histórico. Para a reportagem, ele contou que, pela segunda vez em 69 anos, a torre do relógio impediu que o fogo também consumisse a Estação da Luz e, assim como ocorreu após o incêndio de 1946, é possível restaurar o prédio centenário.

“Pelo que vi o fogo se alastrou por todos os pavimentos. O último andar, onde tinha uma grande galeria, o auditório, era o coração do museu, e foi totalmente destruído”, diz o arquiteto sobre o tamanho do prejuízo.

Questionado sobre o que foi perdido e o que será possível recuperar, Mendes da Rocha acha difícil precisar neste momento, antes de uma análise técnica (do complexo), se houve comprometimento das estruturas. “Parece que as fachadas resistiram, mas só um estudo técnico profundo vai determinar isso. A princípio, é possível restaurar uma boa parte. O prédio tem três segmentos. Uma parte maior do lado esquerdo, que representa dois terços, e foi atingida pelo fogo. A torre do relógio, e um terço do lado direito. No incêndio de 1946, o fogo consumiu os mesmos dois terços da estrutura. Tem uma explicação física para isso. Tudo leva a crer que neste incêndio aconteceu a mesma coisa. O fogo veio caminhando pelo lado esquerdo e, quando chegou na torre do relógio, que tem paredes grossas, ele ficou retido. E a torre teria funcionado como uma grande chaminé e poupado o outro um terço do prédio. Por isso que no restauro de 1947 esse um terço do lado direito ficou intacto, com as estruturas de 1901”, afirma.

1947

Para o arquiteto, o restauro de 1947 “mostrou que é possível recuperar os elementos significativos do prédio com técnicas contemporâneas”. Mas pondera, “na opinião dos três órgãos de preservação do patrimônio histórico esse projeto de 1947 não foi de qualidade, foi desastrado nas divisões internas”.

Ele acredita que é necessário aperfeiçoar mais os recursos para “combater, estancar e minimizar os princípios de incêndio para que eles não se propaguem. Esse continua sendo nosso grande desafio. O histórico incêndio do Edifício Joelma (em 1974, que deixou 191 mortos) trouxe muitas lições e princípios que nortearam o postulado do Corpo de Bombeiros”. E completa, “vamos aprendendo com essas tragédias”.

Reconstrução

Indagado sobre o tempo que pode durar a reconstrução do museu, Mendes da Rocha afirma que é impossível precisar. “Depende de vários fatores, como a disponibilidade de recursos, avaliação dos danos, quais procedimentos de recuperação serão usados e se o projeto será semelhante ao atual.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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