Após a alta de 1,10% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) em abril, a inflação na capital paulista deve desacelerar para 0,49%, de acordo com a estimativa do coordenador do IPC da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), André Chagas, divulgada nesta terça-feira, 5, ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Segundo ele, depois de o mês de abril ter sido caracterizado como o das tarifas de energia elétrica elevadas, maio deve contar com taxas bem mais amenas. “Só a alta de 19,70% de energia contribuiu com dois terços do resultado do índice”, disse. O indicador também deve perder força ante maio de 2014, quando ficou em 0,52%.
Com expectativa de que não haverá novos aumentos no setor energético à frente, Chagas estima que a classe de despesa Habitação, da qual faz parte energia elétrica, sai de uma variação de 19,70% em abril para 0,92% em maio, levando o grupo para uma inflação de 0,35%, na comparação com 2,30% no quarto mês do ano. “Rigorosamente, (alta de administrados) isso não é inflação, mas é efeito do não reajuste em anos anteriores, além de problemas estruturais do setor que o País enfrenta”, argumentou.
Neste mês, o economista acredita que também aconteça mais disseminação da inflação em São Paulo, mas em níveis mais moderados do que o visto recentemente. “Tirando isso do horizonte, devem restar algumas outras variações menores, mas que não chegam perto do avanço isolado de energia elétrica”, disse.
Além de se beneficiar de um resultado mais baixo do grupo Habitação, a expectativa de Chagas é de que o conjunto de preços de alimentos saia de uma taxa de 0,83% em abril para 0,47% no quinto mês do ano, especialmente puxado pelos produtos in natura. Ele explicou que a sazonalidade favorável deve ser ponto-chave para ajudar a abrandar a inflação de Alimentação no período. No entanto, ponderou que esse alívio pode ser menor que o esperado, dadas as incertezas em relação ao impacto cambial sobre os preços de alguns itens alimentícios.
“O dólar ainda segue em alta e muitos produtos semielaborados e industrializados sofrem diretamente com a variação cambial. Resta saber se os produtores encontrarão espaço para fazer repasses e se isso será captado pela inflação. Isso pode fazer com que a sazonalidade (favorável) seja mais suave e não contribua para segurar os preços”, sugeriu.
Chagas relembrou que, neste ano em que a economia está mais fraca, produtores e empresas enfrentam o dilema de repassar ou não o avanço recente do dólar e também de custos mais elevados, como energia elétrica. “Repassar os aumentos dos custos e amargar queda nas vendas ou segurar, na tentativa de manter as vendas e market share (participação no mercado)”, disse em referência ao dilema do setor produtivo.
O economista afirmou que o óleo de soja foi um dos itens que sentiu os impactos do avanço da moeda norte-americana, ao fechar abril com alta de 3,79%, ante 0,37% em março. Mas já dá sinais de perda de fôlego.
Apesar disso, os industrializados devem seguir no centro das atenções, pois o subgrupo vem dando sinais de que avançará mais, assim como o de semielaborados, que fecharam abril com altas de 0,62% (ante 0,66%) e 1,60% (ante -0,45%), respectivamente. “Em industrializados, a pressão vem dos panificados (1,26%), por causa da alta do trigo, enquanto nos semielaborados, a influência vem da carnes bovinas (1,48%), que estão subindo”, explicou.
Ano
Para o fechamento de 2015, André Chagas mantém a expectativa de alta de 6,00% para o IPC do período. Segundo o economista da Fipe, há espaço para queda ou elevações menos significativas de alguns produtos. “Temos de acompanhar, especialmente os números de junho, julho e agosto, para ver se haverá taxas mais baixas, se a caixinha de maldades (reajuste de administrados, em especial de energia) já foi toda aberta e como se darão os efeitos (defasados) da política monetária sobre os preços e, claro, como se darão os impactos da atividade mais fraca sobre a inflação”, disse.