O pesquisador do Ibre/FGV Samuel Pessoa afirmou na manhã desta sexta-feira, 8, durante debate sobre política fiscal no Insper, que quase 90% dos efeitos do bônus demográfico brasileiro já foram colhidos e que não há razão para ser muito otimista em relação a esse assunto nos próximos anos.
Pessoa explicou que, do ponto de vista econômico, o que importa é diferença entre a taxa de crescimento da população economicamente ativa e a população total. Sob esse critério, o Brasil teria apenas mais “uns quatro, cinco anos” de bônus demográfico. “Nos próximos anos teremos um restinho do bônus demográfico, que vai despencar. Então, 90% dos efeitos já foram colhidos”, comentou.
Um efeito que pode ser considerado como um segundo bônus demográfico está associado ao impacto da estrutura etária da população no incentivo a poupar. Ou seja, com o envelhecimento da população, a poupança tenderia a aumentar, já que pessoas entre os 40 e 65 anos tendem a economizar mais. O problema é que isso já deveria estar ocorrendo desde a década de 1970, mas na verdade a taxa de poupança brasileira tem caído.
“A taxa de poupança despencou porque, junto com a colheita do segundo bônus demográfico, ocorreu a redemocratização, que gerou uma enorme pressão sobre o gasto social, com a demanda para construir nosso estado de bem estar social, que representa quase 15% do PIB”, explicou Pessoa.
O pesquisador deixou claro que, sob qualquer critério, a sociedade brasileira poupa muito pouco. Além disso, diferentemente do que ocorre nos países asiáticos, por exemplo, a poupança aqui não responde a ciclos de aceleração do crescimento, o que permitiria períodos mais longos e sustentáveis de expansão econômica. “No Brasil é o contrário, o que significa que o investimento precisa ser financiado por poupança externa e na primeira reversão disso o ciclo de crescimento é abortado antes de se tornar longo”, comentou.
Há ainda um terceiro bônus demográfico, que é o fato de que, com o envelhecimento da população, nascem menos crianças e assim seria mais fácil melhorar a qualidade da educação. Neste caso, também, Pessoa se mostra pessimista. Ele apontou que o gasto do governo com idosos (basicamente com a Previdência) é cerca de 13% do PIB, enquanto o gasto com as crianças (educação e Bolsa Família) soma quase 6%.
Como a população de crianças ainda é muito maior que a de idosos, o gasto per capita com a camada mais jovem da população é bem menor. “Para cada criança que deixa de nascer, é como se o Brasil ganhasse três idosos”, brinca.N