Economia

Morgan Stanley:juro não é suficiente para investidores

O juro alto não será suficiente para atrair investidores estrangeiros para o Brasil e, por isso, o real retomará a trajetória de desvalorização em breve. A previsão é do chefe de estratégia de câmbio do banco Morgan Stanley na Europa, Ian Stannard. “O real brasileiro é uma das moedas que enfrenta o desafio do duplo déficit (saldo negativo nas contas externas e no resultado fiscal) e também do dólar forte”, disse.

O Morgan Stanley entende que mesmo com a taxa Selic em trajetória ascendente e o espaço ainda maior para o carry trade no Brasil, o estrangeiro ainda está preocupado com o quadro doméstico e os efeitos da esperada alta do juro nos Estados Unidos. “O elevado carry trade não será suficiente para evitar que a moeda se deprecie”, disse. “Os riscos, particularmente aqueles que colocam em perigo o ajuste fiscal e o grau de investimento, podem ser mais relevantes para os investidores”, completou Stannard nessa semana. Carry trade é a operação em que se aproveita a diferença de juros entre duas economias para lucrar. Nessa operação, o investidor toma empréstimo em uma região com taxa reduzida – como na Europa – e investe em um país que oferece retorno elevado – como o Brasil.

Com o efeito limitado do carry trade sobre a moeda brasileira, o Morgan Stanley prevê que o real voltará a se enfraquecer de maneira mais evidente nas próximas semanas. Para o banco, o dólar deve sair do atual patamar em torno de R$ 3,10 em direção a R$ 3,30 no fim de junho e atingirá R$ 3,65 no fim do ano. Em 2016, a trajetória de desvalorização continua e o dólar deve chegar a R$ 3,80 no fim de dezembro do próximo ano, prevê a equipe de Ian Stannard.

Queda sistemática

Um dos argumentos da equipe do Morgan Stanley é o de que o real brasileiro registrou “desvalorização sistemática” em 2014 a despeito de o Brasil já oferecer no ano passado um dos retornos mais elevados entre as economias emergentes. “O carry trade permanece como um dos mais altos entre os emergentes, mas o suporte para o real é limitado devido ao fato de que o juro alto é principalmente resultado da alta inflação e não é consistente com a dinâmica de crescimento econômico”, dizem os analistas da equipe de Stannard.

Além do quadro doméstico frágil citado, o Morgan Stanley alerta que a expectativa de aumento do juro nos Estados Unidos vai afetar o fluxo global de capitais, em especial para países com mais vulnerabilidades – caso do Brasil.

“A incerteza relacionada ao momento e ao ritmo da política monetária dos Estados Unidos também geram volatilidade elevada e mina o apoio para o carry trade“, diz a equipe do Morgan Stanley. Com a perspectiva de maior retorno dos investimentos em renda fixa nos EUA e sem uma solução rápida para os problemas domésticos, Ian Stannard alerta que vai diminuir o apetite do mercado em financiar o Brasil.

“Os riscos podem afetar o apetite dos estrangeiros em financiar o ainda grande déficit em conta corrente e o elevado endividamento do setor privado”, disse. Após listar tantos pontos negativos, a equipe de câmbio do Morgan Stanley reconhece que há um ponto positivo no desenvolvimento recente da economia brasileira. “Com a política fiscal e monetária agora como principais instrumentos para reduzir a inflação, a política de câmbio mudou para permitir maior flexibilidade das cotações e para que o câmbio possa ser ajustado e absorva choques externos”.

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