Após 55 dias ocupada por estudantes contra a reorganização escolar do governador Geraldo Alckmin (PSDB), a escola estadual Fernão Dias, em Pinheiros, na zona oeste da capital, iniciou nesta quarta-feira, 6, as aulas de reposição para que o ano letivo de 2015 possa ser finalizado. Os alunos foram liberados por volta das 9h, já que ficou acertado que, nesta semana, aulas normais serão realizadas nas duas horas iniciais da aula e o restante do período será para planejar as atividades das próximas semanas.
Ocupada no dia 10 de novembro, a escola perdeu quase um mês e meio de aulas que estavam previstas para a conclusão do ano letivo. De acordo com a direção da unidade, a reposição seguirá até o dia 5 de fevereiro, inclusive aos sábados e no feriado de 25 de janeiro. As aulas do ano letivo deste ano terão início no dia 15 de fevereiro.
No período da manhã, em que estudam apenas alunos do ensino médio, os estudantes foram liberados por volta das 9h. “Tivemos aula, mas ela foi bem diferente do que estávamos acostumados. Foi um debate sobre a ocupação das escolas e a reorganização”, disse Gabriel Suzarte, de 17 anos, aluno do 3º ano no colégio.
“A aula que tivemos foi sobre as ocupações e o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. É interessante ver que mudamos algumas coisas, os alunos foram ouvidos hoje durante a aula e não ficaram apenas ouvindo um professor”, contou Lizandra Lima, de 16 anos, aluna do 2º ano. Ela contou também que achou a aula ainda mais interessante pela disposição das carteiras em um grande círculo, ao invés de fileiras como ocorria antes.
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, os alunos foram liberados mais cedo porque teriam acordado com a direção que participariam do planejamento das aulas de reposição para definir as atividades culturais que irão ocorrer nas aulas aos sábados. A maioria dos estudantes, no entanto, foi embora para casa ou ficou em frente à unidade conversando com os colegas.
Os alunos do período da tarde, que são do fundamental dois (do 6º ao 9º ano), também foram informados na entrada da aulas que seriam liberados por volta das 15h, após o intervalo. “Estava na praia, em viagem com a minha família e voltei essa madrugada porque teria aula. Mas agora fico sabendo que só vou ter aula por duas horas”, disse Mateus Ferrer, de 14 anos, aluno do 9º ano.
Protesto
A ocupação no Fernão começou na manhã do dia 10 de novembro. Foi a primeira escola da capital a ser ocupada e a segunda no Estado. No auge do movimento, 196 escolas foram tomadas por alunos em São Paulo.
Com organização para a limpeza da unidade e gestão dos próprios estudantes, a escola virou uma referência para outras ocupações. O prédio passou uma semana cercado por policiais militares, o que colaborou para que a unidade se tornasse símbolo da ação dos estudantes contra a reorganização anunciada pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) – e suspensa no dia 4 de dezembro.
A desocupação estava marcada para as 18h desta segunda. Os estudantes entregaram a chave da escola às 21h05, após perícia da Polícia Civil. Também entregaram uma carta com reivindicações como renovação do grêmio estudantil, mudança em alguns horários da escola, como o de entrada para atrasados, abertura da escola fora do horário de aula, participação dos alunos no projeto pedagógico e merenda nas noites de sexta-feira.
Os alunos limparam a escola e recolheram sacos de lixo, colchões e cobertas pessoais antes de saírem. Também recolheram a maioria das faixas sobre a ocupação que adornavam a fachada do prédio. O saco plástico que cobre a estátua do bandeirante que dá nome à escola foi mantido.