Preso desde outubro por integrar suposto esquema de compra de medidas provisórias nos governos Lula e Dilma, o lobista Mauro Marcondes Machado avalia fazer acordo de delação premiada com investigadores da Operação Zelotes. Prestes a completar 80 anos e com problemas cardíacos, ele discute essa hipótese com interlocutores como forma de deixar a Penitenciária da Papuda, em Brasília, o mais rápido possível, e de livrar a mulher, Cristina Mautoni, do regime fechado.
Também detida em outubro, Cristina ficaria na cadeia, mas a Justiça aceitou converter sua prisão em domiciliar porque ela se recuperava de uma cirurgia. Na quinta-feira, peritos estiveram na casa dela para avaliar se a suspeita tem condições de voltar a uma unidade prisional. A possibilidade de mudança de regime apavora o lobista e a família, conforme pessoas próximas a ele ouvidas pelo Estado.
Mauro Marcondes completa 80 anos em 9 de abril e deve se valer de benefício que prevê, nessa idade, o cumprimento de pena em regime aberto – Cristina, contudo, tem 53. O casal tem uma filha de 14 anos.
Além da idade avançada, pesa a favor de Marcondes a saúde frágil. “É necessário avaliar, nessa situação, quanto vale um ano de sua vida na cadeia”, disse uma pessoa próxima do lobista. Ele divide cela com o também lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS, preso sob a acusação de integrar o mesmo esquema. O caso foi revelado pelo Estado em outubro.
Não houve, por ora, tratativas sobre os termos de um eventual acordo. Se optar pela delação, Marcondes poderá contar detalhes dos pagamentos de R$ 2,5 milhões feitos ao empresário Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O lobista e o ex-presidente têm uma ligação que remonta à década de 1980, quando um era executivo da Volkswagen e o outro, sindicalista no ABC. Uma pessoa próxima a Marcondes diz que os repasses seriam uma forma de o lobista buscar prestígio com o ex-presidente.
Luís Cláudio alega que os valores se referem a serviços de consultoria prestados por sua empresa, a LFT Marketing Esportivo, à Marcondes & Mautoni Empreendimentos, que pertence ao lobista. A PF sustenta que os trabalhos foram montados com material copiado da internet, especialmente o site Wikipédia. Em depoimento à PF, Marcondes disse ter considerado o preço dos “serviços” de Luís Cláudio “absurdo”. Mesmo assim, aceitou pagá-los.
Caças
Os investigadores da Zelotes também querem aprofundar a apuração sobre a suposta participação do lobista na compra, pelo governo federal, dos caças Grippen, da sueca Saab Aviation. A negociação bilionária foi feita no governo Lula e fechada na gestão de Dilma Rousseff. Em interrogatório na Papuda, a PF perguntou a Marcondes se ele tratou do negócio com políticos e agentes públicos, incluindo Lula. Ele se manteve em silêncio no depoimento, mas estaria disposto a contar mais a partir de agora.
O lobista e a mulher são suspeitos de contratar uma investigação clandestina para espionar o procurador José Alfredo de Paula Silva, que está à frente de um inquérito sobre os caças. No caso das MPs, os dois foram denunciados em novembro por lavagem de dinheiro, organização criminosa e corrupção ativa. A Justiça Federal em Brasília aceitou a denúncia. Procurada pelo Estado, a defesa de Marcondes não se pronunciou sobre a hipótese de delação premiada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.