Um dos três delatores ligados ao “banco da propina da Odebrecht”, o empresário Luiz Augusto França, afirmou que executivos da empreiteira sugeriram que, por causa das investigações da Operação Lava Jato, ele e seu sócios Vinicius Borin e Marco Bilinski saíssem do Brasil rumo a países que não tivessem Cooperação Internacional.
Luiz Augusto França disse à força-tarefa da Lava Jato que a conversa começou com Fernando Migliaccio e continuou com Felipe Montoro, executivos da empreiteira.
A cooperação jurídica internacional, segundo define o Ministério da Justiça, é o modo formal de solicitar a algum país medida judicial, investigativa ou administrativa necessária para investigação, inclusive bloqueio de ativos e prisão para fins de extradição.
O empresário relatou que Montoro sugeriu também que os delatores do setor financeiro “apresentassem um plano de gastos decorrentes desta mudança”. Os três delatores trabalharam no Meinl Bank Antigua, supostamente adquirido pela Odebrecht para repassar propinas no exterior.
“Felipe Montoro já esteve no escritório do depoente e também encontraram-se algumas vezes, inclusive, em Viena e Portugal, na maioria ela vezes acompanhado de Fernando, ocasiões em que sugeriram aos executivos do Meinl Bank deixarem o Brasil em razão das investigações da Lava Jato; que disseram que eles poderiam escolher alguns países, como Dubai, Antígua, Portugal. República Dominicana, deixando aberto também para outros países, observando que os países que sugeriam não tinham tratado de cooperação, o que daria maior segurança de que não seriam responsabilizados pelas autoridades brasileiras”, afirmou o delator.
Marco Bilinski, Vinícius Borin e Luiz França, que atuavam no setor financeiro e trabalhavam como captadores de clientes para o banco no Brasil, acordaram em pagar R$ 1 milhão de multa cada um e também repatriar todos os bens que possuírem no exterior, recolhendo os impostos às autoridades brasileiras. O valor dos bens no exterior, porém, não foi divulgado.
Com a homologação, as delações dos três executivos do setor financeiro, que se associaram a Fernando Migliaccio e Luiz Eduardo Soares, então executivos do Departamento de Operações Estruturadas – nome oficial da central de propinas da empreiteira, segundo a Lava Jato – da Odebrecht, poderão ser utilizadas para novas investigações sobre a complexa rede financeira de 41 offshores, empresas em paraísos fiscais, montada pela maior empreiteira do País para distribuir propinas relativas a obras que vão além do esquema de corrupção na Petrobras.
O Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht foi alvo da 23ª etapa da Lava Jato, que levou à prisão do marqueteiro João Santana, sua mulher e sócia, Mônica Moura, além do próprio Borin. Foi a partir da Operação Acarajé – assim batizada em referência a um dos nomes usados nas planilhas da contabilidade paralela da Odebrecht para propinas – que a força-tarefa da Lava Jato chegou ao núcleo dos pagamentos ilícitos da empreiteira.
Consultada pela reportagem, a Odebrecht informou que não vai se manifestar sobre o assunto.