Os seis bancos credores da Sete Brasil, empresa criada para administrar as sondas da Petrobrás no pré-sal, devem executar as garantias de R$ 4,5 bilhões dadas pelo Fundo Garantidor da Construção Naval (FGCN) no empréstimo à empresa. Essa é uma forma de reduzir os prejuízos dos bancos Bradesco, Banco do Brasil, Caixa, Itaú BBA, Santander e Standard Chartered com o empréstimo de R$ 12 bilhões dado à companhia.
Além disso, a execução das garantias também é uma forma de pressionar o governo para que o BNDES libere o financiamento de longo prazo para a Sete Brasil, travado desde o ano passado por causa da Operação Lava Jato. Isso porque, mesmo executando as garantias do Fundo Garantidor, os bancos ainda ficariam com um prejuízo de R$ 7,5 bilhões, emprestados à Sete sem garantias.
Nenhum dos bancos quis comentar o assunto, alegando o sigilo bancário de clientes. O Fundo Garantidor usou o mesmo argumento. Mas, segundo algumas fontes próximas às instituições, a decisão de executar o FGCN vai na esteira do Standard Chartered, que nesta semana foi o primeiro a notificar o Fundo.
O movimento do Standard praticamente obriga os outros bancos a fazer o mesmo, segundo comenta um executivo de uma das instituições. Um dos motivos é que os primeiros a exigir as garantias do Fundo Garantidor recebem um porcentual maior. O rateio da garantia só será igualitário se todos os bancos a executarem ao mesmo tempo, ou seja, o banco que ficar para trás vai receber menos.
Outro motivo é que, ao executar as garantias, o Standard assume que a Sete Brasil não pagou o que devia e então passam a valer as cláusulas de “cross default” estabelecidas na concessão do financiamento. As cláusulas preveem que, caso a empresa deixe de pagar parte de um empréstimo, todo o resto pode ser cobrado imediatamente.
Um dos acionistas da Sete Brasil diz que a situação da empresa tem se deteriorado sem que o governo tenha escutado os donos da empresa sobre uma possível solução para o impasse. O BNDES chegou a propor liberar o financiamento via bancos credores, o que na prática o levava a assumir o risco também desse empréstimo. A solução não agradou as instituições. Alguns executivos dizem que quando entraram no negócio o governo alegava que era um projeto importante para o País e agora está entregando o problema para os bancos.
Dos R$ 12 bilhões concedidos, o Standard Chartered tem a menor participação, de US$ 250 milhões. O maior financiador foi o Banco do Brasil, segundo informa um dos acionistas, com empréstimos que superariam R$ 3 bilhões. Bradesco, Itaú BBA e Santander teriam emprestado valores superiores a R$ 2 bilhões cada um e a Caixa teria uma participação menor, de R$ 1,5 bilhão.
Delação. A situação da Sete Brasil vem se deteriorando desde outubro do ano passado, quando um de seus ex-diretores e ex-gerente da Petrobrás, Pedro Barusco, assinou acordo de delação premiada na Operação Lava Jato. Sem ter como afirmar se a companhia tinha indícios de corrupção, ficou difícil acertar o financiamento de longo prazo sem que antes a empresa passasse por uma auditoria interna. Além disso, a situação foi agravada com o fato de a Petrobrás ter tentado cancelar a contratação de sete sondas.
Quando as partes chegaram a um acordo, em fevereiro, veio a público a delação premiada de Barusco que implicou os estaleiros e ex-executivos do banco. E assim o BNDES travou de vez o financiamento, que resolveria toda o problema.
Em meio a esse imbróglio, a Sete deixou de pagar os estaleiros que contratou para construir as 29 sondas que seriam usadas no pré-sal. Já são mais de R$ 2,5 bilhões em atraso, que deixaram também os estaleiros em situação difícil. Sem o financiamento de longo prazo, a Sete Brasil pode se tornar inviável e deixar um rastro bilionário de prejuízos. Os acionistas investiram R$ 8,3 bilhões no negócio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.