O governo pode até estar alinhado com os chineses sobre a necessidade de se construir uma ferrovia que corte o Mato Grosso e avance até a Ferrovia Norte-Sul, criando uma nova rota de escoamento de grãos para o País. O traçado previsto, no entanto, está longe das soluções logísticas que os produtores da região de fato esperam.
O trecho que realmente passou a ser prioridade para o produtor é a ferrovia que liga Sinop (MT) a Miritituba, no Pará. O novo traçado foi incluído no pacote de concessões que será detalhado nesta terça-feira, 9, a pedido do próprio setor produtivo.
Em vez de cortar o Mato Grosso de leste a oeste, ligando a região de Lucas do Rio Verde até Campinorte, em Goiás, onde se conectaria à Ferrovia Norte-Sul, o novo projeto correria paralelo à rodovia BR-163, que já foi concedida à iniciativa privada até Sinop. A partir desse ponto, portanto, a nova ferrovia subiria cerca de 1 mil km rumo ao Pará, até chegar a Miritituba, onde diversas tradings de grãos já erguem um novo complexo para o escoamento de grãos.
Essa rota é bem mais interessante para o produtor porque, a partir do Pará, é possível acessar a hidrovia do Rio Tapajós e, assim, se conectar ao Amazonas. “Na prática, isso significaria menos custo”, diz o senador Blairo Maggi (PR-MT), um dos principais interlocutores do agronegócio no País.
A questão é que esse novo traçado praticamente inviabiliza a ligação acertada com os chineses, entre Lucas do Rio Verde e Campinorte, traçado que faz parte da alardeada “Ferrovia Transoceânica”, que ligaria os extremos do Brasil e do Peru. “Não faz sentido pensar em duas ferrovias na região”, comenta Maggi.
Os produtores até chegaram a calcular o preço do escoamento de grãos pelo vizinho latino-americano. Segundo Maggi, concluiu-se que cada tonelada de carga que saísse por trilhos de Lucas de Lucas do Rio Verde com destino aos portos do Peru ficaria US$ 40 mais cara que aquela destinada aos portos de Santos ou Paranaguá.
“Quando comparamos todas as alternativas, não há dúvidas de que o traçado de Sinop a Miritituba é a melhor alternativa”, comentou Maggi.