O consumo mais enfraquecido no mercado interno pode estar limitando a transmissão dos efeitos da depreciação cambial para os preços de alguns produtos ligados ao dólar, avaliou nesta segunda-feira, 23, o economista e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Picchetti. “As condições para repasse do câmbio estão bem pouco favoráveis. Até por conta disso, o grupo industrializados deu uma declinada”, disse, ao referir-se à taxa de 0,43% dos industrializados na terceira leitura do mês, após 0,60% na segunda. O IPC-S, por sua vez, ficou em 1,47% (ante 1,49%).
“No mínimo, os industrializados interrompem a trajetória de alta que era devagar, mas contínua, e justamente no momento em que o dólar atingiu a maior cotação desde 2003. É óbvio que o repasse não é imediato. Por outro lado, é óbvio também que as condições atuais provavelmente vão mostrar que o efeito não só vai demorar mais que no passado como também poderá ser pouco intenso”, explicou. Na última quinta-feira, o dólar ante o real teve alta de 2,49% e atingiu R$ 3,2950, para o maior patamar de fechamento desde 1.º de abril de 2003.
Picchetti citou como exemplo o comportamento dos preços dos automóveis novos e usados, que apresentaram, pela ordem, taxas de 1,19% e 0,72% na terceira medição de março, e já estão desacelerando nas pesquisas mais recentes, dando indícios de queda. “Tem ainda o aumento dos juros, crédito mais apertado e os efeitos da isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)”, afirmou.
O pão francês, que passou de 0,97% para 0,96% entre a segunda e a terceira semanas, já está desacelerando nas pesquisas de ponta (mais atualizadas), disse Picchetti. “Realmente, a questão de demanda vai começar a pegar se é que não pegou já”, considerou.