A taxa de ocupação dos aviões nos voos domésticos recuou 0,5 ponto porcentual em fevereiro, mês que marcou o fim da alta temporada para o setor aéreo, que se encerra no carnaval. A queda foi resultado de uma expansão da oferta, medida em ASK (assentos-quilômetro oferecidos), superior ao aumento da demanda. Enquanto o número de assentos-quilômetros ofertados avançou 4,8% no mês passado, sobre o mesmo período de 2014, a demanda progrediu 4,1% na mesma comparação, de acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), que reúne as quatro principais empresas aéreas nacionais – Azul, Avianca, Gol e TAM. Juntas, essas empresas transportaram um total de 7,6 milhões de passageiros, número 5,9% acima do contabilizado em fevereiro de 2014.
O presidente da Abear, Eduardo Sanovicz, salientou que a alta temporada encerrada em fevereiro foi o momento em que o público de lazer se somou aos passageiros do dia-a-dia, que viajam a trabalho e reforçam o volume de consumidores, mas alertou que agora os desafios para as companhias aéreas deve crescer. “A partir de agora se inicia uma etapa de maior atenção para o setor, que neste ano inclui novamente o desafio da volatilidade do câmbio, que impacta diretamente nossos custos. Aliado a isso, há o compasso de espera da economia, que altera o comportamento do segmento corporativo, que já teve forte retração durante os dois primeiros meses do ano”, disse, por meio de nota. Ele indicou que os resultados de março serão um indicativo para o restante do ano.
Em termos de participação de mercado, fevereiro também marcou o retorno da TAM à liderança do segmento doméstico, medida pela demanda, com 36,82% de participação. A Gol segue na cola da concorrente, com 36,39%. Azul ficou com 17,66% e Avianca registrou 9,13%. “Esses números da disputa pela preferência dos clientes traduzem a acirrada competitividade, estabelecida na aviação nacional com a liberdade tarifária”, disse Sanovicz.
No segmento internacional, a oferta das companhias brasileiras seguiu em ampliação pelo sétimo mês consecutivo, com alta de 27% ante fevereiro de 2014. Já a demanda teve expansão de 31,5% no mês. Com isso, a taxa de ocupação nas viagens ao exterior teve melhora de 2,8 pontos porcentuais, para 80,3%. O total de passageiros transportados nos voos internacionais cresceu 24%, somando aproximadamente 586 mil.
A Abear destacou que não contabiliza as viagens internacionais realizadas por companhias aéreas de outros países e pode afirmar as causas dos resultados expressivos de janeiros e fevereiro. “Entre os possíveis fatores estão uma migração da demanda para as companhias brasileiras em razão do aumento da oferta e da competição ou uma intensificação na procura por viagens ao exterior como forma de precaução contra o aumento nas despesas em face à tendência de desvalorização da moeda brasileira ante o dólar americano”, declarou a entidade.
Em termos de participação do mercado, a TAM segue na liderança, com 69,81% da demanda. A Azul obteve 15,87%, enquanto a GOL aparece com 14,25%. A Avianca ficou com participação inferior a 1%.
Custos
Sanovicz disse ainda que a aceleração do câmbio nos últimos meses impacta em 60% dos custos do setor. Durante abertura do evento “Aviação em Debate: os desafios do setor”, o executivo disse que a reversão da desoneração da folha de pagamento também terá efeito significativo nas contas das empresas este ano. “Somados todos esses fatores, temos uma estimativa de R$ 2,5 bilhões a mais em custos no decorrer de 12 meses”, acrescentou.
Já o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, ponderou que o mercado da aviação civil no Brasil tem tido uma expansão maior do que qualquer setor da economia, com crescimento de 10% ao ano na última década. “Crise é sempre sinônimo de oportunidade”, avaliou. “Não podemos deixar nos afligir por circunstâncias desse momento, como o câmbio e reavaliação de benesses dentro do ajuste fiscal, que realmente impactam o setor”, acrescentou.
Para Padilha, é necessário ainda discutir o ajuste fiscal com o parlamento, para ajustar as rubricas onde ocorrerão os cortes. “Sem perder o ajuste, é preciso manter a produtividade e o emprego. O ajuste é indispensável, mas o tamanho e a forma como vai acontecer será modulado pelo debate com o Congresso”, acrescentou.
Também presente no evento, o diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Guaranys, disse que o órgão pretende abrir consultas públicas nos próximos meses, com a nova consolidação dos direitos dos passageiros e com a regulamentação do uso de drones. De acordo com ele, esse regulamento sobre os aparelhos de voo de pequeno porte levará em consideração questões como invasão de privacidade e segurança do tráfego aéreo.