Marcada por contrastes pelo País, a safra 2014/15 de soja, carro-chefe das exportações brasileiras, deve registrar novo recorde e bater 95,8 milhões de toneladas, calcula a consultoria Agroconsult. O volume esperado, 11% superior ao do ano passado, será puxado pelo salto de produtividade da Região Sul, que, premiada neste ciclo por um clima extremamente favorável, deverá amenizar parte da perda causada por estiagem em alguns Estados.
“Esta é uma safra que, por causa do bom potencial do Sul, deve fechar com produtividade de 50 sacas por hectare”, diz Marcos Rubin, sócio da Agroconsult e um dos coordenadores do Rally da Safra, expedição anual da consultoria que avalia 97% da área de soja do País.
O Estado participou da 6.ª equipe da expedição e visitou dezenas de lavouras em mais de 30 cidades pelo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A região foi contemplada com chuvas abundantes e regulares desde o início do plantio, inclusive em áreas que haviam sofrido com veranico (seca) em 2014, como o norte do Paraná e o norte do Rio Grande do Sul.
“Choveu todo dia, não tenho do que reclamar”, diz Marcelo Nunes, de 31 anos, que planta 145 hectares de soja em Passo Fundo (RS). “No ano passado, foram 45 dias de sol”, conta. O produtor Valdecir Luiz Delazeri, de Santo Antônio do Planalto, um pouco adiante, também enfrentou seca no ano passado, o que lhe rendeu uma média de 52 sacas por hectare. Neste ano, a perspectiva é diferente. “O clima foi ótimo, foi um ano espetacular. Choveu até demais, tem até gente reclamando”, diz. A expectativa dele era colher 70 sacas por hectare. “O vizinho colheu ontem e deu 72, não posso ficar para trás”, brinca.
O Rio Grande do Sul deve produzir 15 milhões de toneladas do grão nessa safra, com produtividade 13% superior ao ano passado. Esse número seria ainda maior, não fosse a alta incidência de ferrugem em alguns pontos de lavouras de ciclo médio e tardio no Estado. No trecho percorrido entre Santiago e Palmeiras das Missões, por exemplo, muitas lavouras ainda verdes, em fase de desenvolvimento, já se encontravam infestadas pelo fungo, que ataca as folhas e impede o enchimento dos grãos.
Um dos afetados foi Carlos Leonardo Krunbauer, de 33 anos, produtor em Giruá (RS) com seu pai, irmão e sobrinho Mateus, que com apenas sete anos, já gosta de ajudar – e brincar – na lavoura. “A colheita está boa esse ano, mas poderia ser ainda melhor, porque tivemos problema sério com ferrugem na região.”
Mesmo assim, ele deve fechar a safra com uma média alta, perto de 70 sacas por hectare. A produtividade veio do investimento, em parceria com uma cooperativa local, em agricultura de precisão – técnica que consiste na aplicação direcionada de insumos levando em conta as necessidades de cada ponto da lavoura. Na safra 2012/13, por exemplo, só havia colhido 50 sacas por hectare.
Já Mato Grosso, maior produtor de soja do País, apresentou chuvas irregulares em janeiro, o que gerou perda em algumas regiões. Mesmo assim, o Estado deve fechar o ciclo com o melhor resultado das três últimas safras, superando 28 milhões de toneladas. Na semana passada, a colheita chegou a 94% da área semeada, segundo o o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Uma seca prolongada no fim de dezembro e em janeiro também afetou regiões de Goiás, Minas Gerais, parte da Bahia e do Piauí – mas sem comprometer o alto potencial da safra, que pode levar o Brasil a ultrapassar a marca dos 200 milhões de toneladas de grãos. A estimativa da Agroconsult é de 202,9 milhões – acima dos 198,5 milhões projetados pela Conab. André Pessôa, sócio-diretor da consultoria, observa: “Se bater essa marca, o Brasil terá um boi e uma tonelada de grão para cada habitante.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.