Nayara Gonçalves, de 19 anos, estava na garupa da moto pilotada pelo marido, em Botucatu, quando um carro cruzou o caminho do casal, no dia 20 de março. Duas semanas antes, um acidente sobre duas rodas já havia tirado a vida de Cesar Augusto de Arruda Roncari, de 20. No dia 24 de abril, foi o enterro de Flávia Chemberg, de 21, após o carro em que estava de carona com uma amiga capotar.
A 240 km de São Paulo, o município onde moram quase 135 mil pessoas é o que tem o maior índice de mortalidade no trânsito no Estado, com taxa anual de 41,5 óbitos por 100 mil habitantes. O resultado consta de um levantamento feito pela reportagem no Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito de São Paulo (Infosiga) com as mortes registradas nas 75 cidades com mais de 100 mil habitantes desde 2015.
Divulgados mensalmente desde fevereiro pelo Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, iniciativa lançada há um ano pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) com apoio de empresas privadas, os dados do primeiro semestre deste ano mostram que Botucatu está na contramão do Estado.
Enquanto em todo o território paulista o número de mortes no trânsito caiu 8% na comparação com o mesmo período de 2015 – a meta é reduzir em 50% até 2020 -, na cidade os registros saltaram 250%, de 8 para 28 óbitos.
O secretário municipal de Trânsito, Rodrigo Luiz Gomes Fumis, disse que a topografia urbana, com muitos aclives e declives, e o excesso de veículos contribuem para os acidentes. Ele destaca ainda que as rodovias que cortam a área urbana, como a Marechal Rondon e a “Castelinho” inflam as estatísticas. A gestão informou que reduziu a velocidade de 60 km/h para 50 km/h em duas avenidas, contratou um radar móvel e está construindo 50 lombadas.
Logo atrás de Botucatu no ranking por 100 mil habitantes aparecem Barretos (29,5 mortes), Franco da Rocha (28,1) e Jacareí (27,2), todas com taxas de mortalidade no trânsito duas vezes maiores do que a média do Estado (13,7). Em número total de óbitos, a capital lidera o ranking com 476 registros, 20,5% a menos do que no primeiro semestre de 2015, quando foram 599 mortes. Na sequência aparecem as outras principais cidades do Estado: Campinas, com 89 óbitos, e Guarulhos, com 71. Com 11,5 milhões de habitantes e uma frota de 7,5 milhões de veículos, contudo, São Paulo apresenta uma taxa de mortalidade abaixo da média do Estado. São 8,2 óbitos por 100 mil habitantes/ano, o que a coloca no 62º lugar.
Das 75 cidades, 30 registraram aumento de mortes no trânsito. A maior alta ocorreu na cidade de Ribeirão Pires, no ABC paulista: de 3 para 13 óbitos, alta de 333%. Já a maior redução ocorreu em Várzea Paulista (-87,5%): de 8 para 1.
Pelo Infosiga, o Estado registrou no primeiro semestre 233 mortes a menos no trânsito. Para Flamínio Fichmann, consultor de engenharia de tráfego, a queda está mais associada à crise econômica do que a ações de segurança.
“Não tenho nenhum motivo para confiar que essa é uma tendência”, disse.
Perfil
Dos 463 mortos em junho, 80% eram homens, 27% das vítimas tinham entre 18 e 29 anos e 67% das ocorrências foram provocadas por colisões e atropelamentos. “Os números mostram que se trata de uma epidemia, um problema de saúde pública. As ações do Estado reduziram a mortalidade nas estradas mas, como 65% das mortes acontecem no perímetro urbano das cidades, o governo entendeu que não dava para tratar o problema de forma exclusiva, que era preciso integrar os municípios e a iniciativa privada”, disse Silvia Lisboa, coordenadora do Movimento Paulista de Segurança.
Além dos dados dos órgãos de governo estadual e da Polícia Rodoviária Federal, a iniciativa lançada por Alckmin reúne entre os apoiadores a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motos (Abraciclo), a Federação Nacional das Empresas de Seguros (Fenaseg) e a Associação de Operadores Logísticos (Optas). Entre as empresas figuram Ambev, Arteris, Itaú, Porto Seguro e Ultra.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.