Apesar do déficit comercial de US$ 5,557 bilhões acumulado no primeiro trimestre do ano, o diretor de estatística e apoio à exportação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Herlon Brandão, disse nesta quarta-feira, 1, que o governo continua com a expectativa de superávit para o ano. No entanto, não há uma estimativa do ministério para o tamanho desse saldo positivo esperado para 2015. “A tendência é de haver superávits comerciais nos próximos meses. O comportamento esperado é de queda nas duas pontas, com redução maior das importações”, projetou.
Para Brandão, o déficit no começo do ano foi muito influenciado pela queda nos preços de commodities, como minério de ferro e petróleo, que detêm parcela significativa da pauta de exportações brasileira. “Por outro lado, o dólar no curto prazo aumenta a rentabilidade para o exportador. A alta do dólar ajuda a mitigar a queda nos preços de commodities”, afirmou.
Questionado se a alta do dólar desde janeiro está entre as causas da queda de 18,5% na média diária da importações no primeiro trimestre na comparação com 2014, Brandão disse ainda ser cedo para se fazer essa avaliação. “Ainda não há informação sobre o efeito câmbio na queda das importações”, disse. O diretor evitou comentar ainda o possível efeito da menor atividade econômica no País sobre o ritmo das compras no exterior.
Março
Brandão disse que o superávit da balança comercial no mês de março, de US$ 458 milhões, foi o melhor resultado para o mês desde março de 2012, quando houve saldo comercial positivo de US$ 2 bilhões. Em março de 2014, o superávit foi de US$ 118 milhões, e em março de 2013, US$ 163 milhões.
Segundo ele, a balança comercial costuma registrar superávit nos meses de março. “É a trajetória esperada, costuma registrar déficit em janeiro e fevereiro e, em março, começa a entrar a safra de soja”, explicou.
Brandão informou que o Brasil exportou 840 mil toneladas de soja na última semana de março, que teve apenas dois dias úteis. No mês de março, foram 5,6 milhões de toneladas exportadas, menos que os 6,2 milhões de março de 2014. No acumulado do ano, o País exportou 6,5 milhões de toneladas, ante 9 milhões de toneladas no primeiro trimestre do ano passado.
“No ano passado, tivemos uma concentração de exportações de soja em fevereiro, com 2,8 milhões de toneladas. Em fevereiro deste ano, foram apenas 870 mil toneladas. Portanto, esperamos um forte volume de exportações nos próximos meses”, afirmou.
Segundo Brandão, a queda nas exportações no primeiro trimestre do ano está relacionada à redução nos preços de minério de ferro, soja e petróleo e óleos combustíveis. Segundo ele, essa é uma tendência que deve continuar ao longo de todo o primeiro semestre deste ano.
“Foram quedas fortes nos preços desses produtos. Também houve uma queda no preço do milho, que já estava baixo”, afirmou. “Pelo menos no primeiro semestre, a queda nos preços vai afetar bastante o resultado da balança comercial”, acrescentou.
Segundo ele, isso deve ocorrer porque a base de comparação em relação ao primeiro semestre do ano passado é alta, já que os preços desses produtos caíram mais fortemente apenas no segundo semestre de 2014. Brandão destacou que, por outro lado, houve aumento nos preços de café, que subiu 33,6%, devido à menor oferta do produto no mercado mundial. Também houve aumento no valor exportado de aviões, mas, nesse caso, foi devido aos modelos comercializados, de maior porte.
Nem mesmo o aumento nos volumes exportados foi capaz de melhorar o resultado das exportações no trimestre. Segundo Brandão, houve aumento significativo nas vendas de petróleo em bruto, café, milho, minério de ferro, aviões e celulose. “Tivemos recorde no volume exportado de minério de ferro, de 79,3 milhões de toneladas, e de petróleo, de 8,5 milhões de toneladas”, afirmou.
Para se ter uma ideia, a quantidade exportada de minério de ferro cresceu 10,5% no primeiro trimestre, mas o preço caiu 50,7%. O resultado foi uma redução de 45,5% no valor exportado. O mesmo aconteceu com o petróleo, cujo volume vendido aumentou 87,8%, mas o preço recuou 49,8%, resultando numa queda de 5,8% no valor embarcado.
No caso das importações, houve queda no volume de compras de combustíveis, automotivo e eletroeletrônicos em geral.
Conta-petróleo
Brandão destacou que o déficit na conta-petróleo deve cair neste ano, devido à redução no valor da commodity e pela queda no volume e no preço dos derivados.
No primeiro trimestre deste ano, as exportações da conta-petróleo somaram US$ 3,853 bilhões e as importações, US$ 7,113 bilhões, com saldo negativo de US$ 3,261 bilhões. Nos três primeiros meses do ano passado, o déficit foi de US$ 4,548 bilhões, com vendas de US$ 5,057 bilhões e compras de US$ 9,605 bilhões.
Segundo ele, no primeiro trimestre deste ano, comparativamente ao mesmo período do ano passado, houve uma redução de 23,8% nas exportações de petróleo, motivadas, principalmente, pela queda no preço do produto. Por outro lado, houve queda de 25,9% nas importações de derivados de petróleo, influenciadas pela diminuição tanto no preço quanto no volume importado. “Esperamos que o déficit continue se reduzindo por conta dessa questão da queda dos preços”, disse.
Ainda de acordo com Brandão, no primeiro trimestre deste ano, houve recorde nos valores exportados de celulose, com US$ 1,295 bilhão, e de farelo de soja, com US$ 1,253 bilhão.