Uma série de indicadores da indústria, do comércio e do setor de serviços mostra que a economia real está se deteriorando rapidamente no 1º trimestre, movimento que deve continuar nos próximos meses, de acordo com a tendência apontada pelos indicadores de confiança. Os índices de confiança, que refletem a situação atual e as expectativas futuras, encerraram março nos menores níveis desde 2008/2009.
Depois de uma ligeira recuperação em janeiro, a produção industrial de fevereiro, divulgada na quarta-feira, 1, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), caiu 9,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em relação a janeiro, houve recuo de 0,9%, segundo a Pesquisa Industrial Mensal. O crescimento do mês anterior foi revisado de 2% para apenas 0,3%, o que aumenta a possibilidade de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre tenha ficado negativo, alertam analistas.
A Tendências Consultoria Integrada, por exemplo, deve aumentar de 1% para 2% a estimativa de queda para o PIB entre janeiro e março em relação ao último trimestre de 2014. E a expectativa para o ano é de um recuo de 1,4%. “A sinalização é de que não há nenhum gatilho que sinalize a retomada de confiança”, diz Rafael Bacciotti, economista da consultoria.
Na avaliação do economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges, os indicadores de atividade e de confiança devem continuar piorando até a metade do ano e começarão a se estabilizar – mas num patamar ruim – só no 2º semestre. A reversão do quadro é esperada para a virada de 2016. “Os indicadores ruins da economia real não me surpreendem.”
Ele ressalta que o que se vive atualmente é o pior desempenho da atividade desde 2009, quando o PIB caiu 0,2%. Ele projeta retração de 1% para o ano. Para o 1º trimestre, a consultoria também espera queda no PIB em relação ao anterior.
Borges explica que uma parte da retração da atividade resulta de decisões deliberadas de política econômica, como ajuste fiscal, com aumento das tarifas, e a alta da taxa de juros para levar a inflação a atingir a meta. Outra parte é reflexo da Operação Lava Jato, que afetou grandes companhias e que abrangem vários segmentos, como a Petrobras e empreiteiras.
Essa também é a avaliação de Bacciotti. “A piora na indústria, por exemplo, está ocorrendo por causa dos efeitos da Lava Jato, pela incerteza com o cenário de energia, e há um fator adicional que é o enfraquecimento da demanda interna.” Esse enfraquecimento, segundo ele, tem como pano de fundo a deterioração do mercado de trabalho.
Demanda
“O que esses indicadores estão mostrando são os primeiros sinais de deterioração da demanda agregada”, afirma o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. Como o ajuste mal começou, ele acredita que esse cenário deverá perdurar ao longo do ano. Na avaliação de Oliveira, o que explica uma deterioração tão rápida e forte dos indicadores é que, ao contrário da crise de 2009, onde os problema eram de oferta, a crise atual está afetando não só a oferta, mas também a demanda.
A fraca demanda doméstica é a grande preocupação dos empresários da indústria, segundo sondagem da FGV de março.
“O mercado doméstico está relativamente esgotado. Mas é um esgotamento até com uma certa cautela. A gente percebe que o consumidor não está indo tresloucadamente às compras”, afirma o diretor de pesquisa da consultoria GO Associados, Fabio Silveira. “Não podemos ter muita esperança do lado do consumidor.”
No auge da crise financeira internacional, em 2008, a economia conseguiu sair rapidamente da recessão por causa da força do mercado interno, o que não deve ocorrer agora. Para Silveira, a economia deve enfrentar um período de baixo crescimento até o 1.º semestre de 2016, pelo menos. Para este ano, a previsão da GO é de uma retração do PIB de 1,2%. Na avaliação do economista, a melhora da atividade passa pelo ajuste fiscal e pelo aumento da presença brasileira no mercado externo. Colaborou Daniela Amorim. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.