Produtores e entidades agrícolas do Centro-Oeste reclamam de dificuldades para a obtenção de crédito para o plantio da próxima safra. A oferta do chamado crédito pré-custeio, tradicionalmente utilizado para a compra antecipada de insumos em meados de fevereiro e março, está paralisada. Na contrapartida, o custo da produção, puxado pela alta do dólar, deve subir cerca de 14%, exigindo R$ 11 bilhões a mais do que na safra passada.
“As operações de pré-custeio, que normalmente já estariam sendo liberadas durante a colheita, para o planejamento da próxima safra e compra adiantada de insumos a preços melhores, não rodaram em Mato Grosso”, diz Ricardo Tomczyk, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). “Não temos notícia de nenhuma operação que tenha sido contratada.”
Segundo ele, a resposta do Banco do Brasil, o principal financiador, aos produtores é de que não há recursos disponíveis. “Temos alguma sobra de insumos nas revendas de estoque do ano passado que ainda estão com o dólar antigo. Então, o produtor queria muito ter acesso ao pré-custeio agora para poder comprar esses insumos a um preço bem inferior aos que serão ofertados daqui a alguns dias”, diz.
A escalada do dólar neste ano, apesar de compensar a queda do preço das commodities e segurar a rentabilidade ao produtor, deve encarecer de modo significativo os insumos para a safra 2015/16. A consultoria Agroconsult projeta alta de quase 14% no custo de produção. Os fertilizantes, por exemplo, devem ter alta de 29% no preço.
Corte. A paralisação na oferta de crédito antes da divulgação do novo Plano Safra, prevista para maio, se agrava no Estado de Goiás, que deve produzir R$ 4,7 milhões de toneladas a menos do que no ano passado. “A situação do Estado está crítica, pois enfrentamos o nosso segundo ano seguido de estiagem”, diz Benjamin de Sousa Junior, diretor da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas (Andav) de Goiás. “Em reunião com o Banco do Brasil na semana passada, a resposta que tivemos foi de que não há autorização para o recebimento de propostas”, diz. Segundo ele, há algumas linhas disponíveis no banco, mas a taxas inviáveis, como 16% ao ano.
“No ano passado, conseguimos o pré-custeio tranquilamente, sempre fomos muito bem atendidos, mas esse ano nada foi liberado para a compra de fertilizantes”, diz o engenheiro agrônomo Leonardo Titoto, de 36 anos, que administra as lavouras de soja de seu pai Paulo Roberto Titoto, em Bom Jesus de Goiás, sul do Estado.
Apesar da produtividade média histórica da propriedade ser de 52 sacas por hectare, a seca ceifou a produtividade e rendeu nos últimos dois anos 38 e 43 sacas, respectivamente.
Na quarta-feira, o Banco do Brasil anunciou que disponibilizaria R$ 7 bilhões para capitalização dos produtores rurais. No entanto, a linha liberada não é equivalente ao pré-custeio, mas é direcionada aos custos com a comercialização dos produtos contemplados pela Política Geral de Preços Mínimos (PGPM).
O banco não atendeu aos pedidos de entrevista da reportagem. Em nota, afirmou: “O Banco do Brasil está atendendo normalmente às demandas de crédito rural do atual ciclo (Safra 2014/2015), relacionados aos financiamento de Custeio, Comercialização e Investimento Agropecuário. Os desembolsos alcançaram o volume de R$ 53 bilhões no período de julho/2014 a fevereiro/2015, crescimento de 13% em relação do mesmo período do ciclo anterior.”
Segundo André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, os produtores ouvidos pela consultoria no Rally da Safra – expedição de avaliação técnica de 97% da área de soja do País – que estavam conseguindo renovar os limites com os bancos estavam obtendo 20% de redução sobre os limites do ano passado.
De acordo com a consultoria, com uma diminuição de 20%, faltariam pelo menos R$ 10,7 bilhões para o plantio da safra 2015/16, uma vez que, apesar dos R$ 12,5 milhões previstos para reinvestimento, o custo da produção deve subir quase 14%. “Não há espaço para uma redução de crédito. Do ponto de vista do setor privado, temos observado redução da oferta. Aguardamos o anúncio de quanto será o crédito administrado pelo governo, porém teremos a pressão do ajuste fiscal – e 70% dos financiamentos são provenientes de fontes públicas”, observa.
De acordo com Pessôa, três grandes questões preocupam o produtor: “o volume de crédito oferecido, a taxa de juros e o timing”. O Plano Safra 2014/15, que terminará em 30 de junho, teve taxa média de 6,5% ao ano. A ministra da Agricultura Kátia Abreu, no entanto, já sinalizou aumento nos juros no próximo plano. O mercado aguarda alta de 2 a 3 pontos porcentuais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.